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Futuros dos Vinhos em Portugal – Manuel Cardoso

Em menos duma década, a malta nova terá duas grandes tendências de consumo de vinhos: os de Primavera-Verão, brancos, rosés e tintos de cor aberta, e os de Outono-Inverno, tintos, de preferência.

Os primeiros, serão consumidos frescos, vendidos a copo ou, na sua maioria, em latas, podendo, assim, estar em espaços como os das piscinas, praias, ruas e festivais, disponíveis em máquinas de vending e transportáveis em lancheiras, sacos isotérmicos, bolsos! As latas são amigas do ambiente, recicláveis, facilmente impressas, sem os perigos dos vidros partidos e facilmente descartáveis, muito leves quando vazias, amolgáveis poupando espaço na sua devolução. Havê-las-á de secção circular, quadrangular e hexagonal, para diversas capacidades, em que as mais correntes serão de 250 a 500 ml. Será um mundo de cores e imagens, jovem e atractivo, proporcionando uma infinidade de experiências com todo o tipo de vinhos e de novidades todos os anos. Competirão com a cerveja, sobretudo teores de álcool mais baixos, e até nos preços. Além doutras vantagens comparativas, haverá a que predominará nos nichos de proximidade. Muitos vinhos poderão ter um muito menor circuito desde a produção ao consumo, logo, uma menor pegada ecológica no transporte. Algumas das actuais produções sobreviverão graças às latas ou seja, para o futuro será preciso ter lata!

Os segundos, de Outono-Inverno, poderão ser também de lata mas serão, maioritariamente, em garrafa de vidro leve ou dos novos PET e em bag-in-box (haverá uma evolução enorme nos bag-in-box a curto prazo, tornar-se-ão muito mais apelativos). Tintos, sobretudo. Estar à volta duma mesa com pratos de cogumelos, caça, carne assada com castanhas, feijoadas, cozidos à portuguesa ou fondues com queijos e molhos, exigirá o requinte da garrafa a ser distribuída de copo em copo, o momento em que os olhos antecipam, na cor, os sabores e aromas dos excepcionais vinhos tintos portugueses, enquanto se olha também para a lareira acesa a fazer parte da mesma magia. O prazer ancestral desses momentos vínicos continuará a ter um grande futuro precisamente por isso mesmo: pela sua ancestralidade impressa na nossa cultura. Mas também aqui com novidades: muitas marcas deixarão de ter garrafas de secção redonda e adoptarão formatos mais eficientes no armazenamento e transporte e materiais mais facilmente recicláveis do que o vidro, que dispensem ao máximo os invólucros acessórios que encarecem todo o processo.

Haverá ainda uma terceira tendência: os vinhos espumantes de celebração. Latas? Garrafas com rolha a fazer pan ao abrir? Ambas as coisas mas, pensamos, as garrafas manterão-se-ão por muitos e bons anos!

Sem entrar na esgrima de argumentos, a razão pela qual no futuro haverá muita lata será sobretudo porque a reciclabilidade do alumínio, sendo praticamente tão integral como a do vidro, tem a diferença de que é muito mais barata. Há também as vantagens comparativas da manuseabilidade e transporte de ambos os materiais e, sobretudo, as múltiplas e variáveis possibilidades de concepção plástica e artística do metal.

Durante centenas ou milhares de anos não houve vidro no vinho: foi transportado em odres de pele, em cerâmica, em madeira, em frutos ocos (cabaças, cocos) e em metais (marinheiros e legionários pagaram com a vida o consumo de vinho transportado em depósitos de chumbo). O vidro veio para ficar mas ainda há escassos anos seria inimaginável o desaparecimento a que hoje estão votados os garrafões! Estamos convencidos, do que observamos passar-se por esse mundo, que o vidro ainda perdurará mas que o papel revestido (com muitas limitações e inconvenientes…), o PET e novos materiais e, sobretudo, as latas, serão cada vez mais e num futuro muito próximo, as tendências de mercado. Ainda por cima com a fase em que estamos a entrar de encarecimento acentuado de matérias primas, energia e transportes, essas mudanças acelerarão.

Tal como haverá um regresso às vendas avulso em que o cliente levará a embalagem que entender para o seu vinho ao seu fornecedor – mas isto implica ainda acertos legislativos e será conversa, conversa interessante, para um destes fins de tarde, à lareira, enquanto a carne tosta nas brasas lado a lado com salpicões, e na mesa já se terão provado, de aperitivo, umas perdizes ensopadas com pão e Boletus edulis… garrafa aberta e copos a brindar e a esvaziar!

O futuro próximo, já em marcha nalguns países e produtores, trará grandes mudanças na forma de dispor os vinhos à escolha dos consumidores. Com essas mudanças, os vinhos recuperarão clientes e espaços de onde recuaram ao longo dos anos. As marcas portuguesas terão de estar atentas e ser, por si próprias, muito inovadoras e audazes nesta nova vaga!

Manuel Cardoso

Consultor e escritor, ex Director Regional de Agricultura e Pescas do Norte, 2011-2018; ex Vice-Presidente do IVV, 2019-2021.


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