A gestão ativa sustentável da floresta portuguesa, que absorve cerca de 4% das emissões de dióxido de carbono, pode ter um impacto anual de mais de 500 milhões de euros na economia, conclui um estudo da Boston Consulting Group.
O estudo, apresentado hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e a que a Lusa teve acesso, revela que a “rápida atuação” na definição e concretização de uma visão para uma floresta portuguesa “mais produtiva e sustentável” poderá ter um impacto de mais de 500 milhões de euros por ano na economia nacional e gerar mais de 16.500 postos de trabalho.
Simultaneamente, a atuação e o compromisso das entidades públicas e privadas poderão aumentar a absorção de dióxido de carbono (CO2) em 200 quilotoneladas por ano, indica o estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “Perspetivas para a valorização da Floresta Portuguesa”.
Segundo a consultora, caso não se assista ao reforço da “governança dos recurso florestais” e de incentivos que mobilizem as instituições e os proprietários, “o círculo vicioso [da gestão atual] poderá gerar a libertação de mais de 50 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em incêndios”, bem como a perda de 12.500 postos de trabalho e de cerca de 350 milhões de euros do Produto Interno Bruto (PIB).
A floresta portuguesa, que ocupa 70% do território, absorve cerca de 4% das emissões de CO2 e gera, anualmente, um valor equivalente a cerca de quatro mil milhões de euros para a economia portuguesa.
No estudo, a consultora salienta que, apesar da aprovação dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal e de outras iniciativas, “existe ainda um vasto conjunto de ações necessárias por concretizar”, entre as quais a “convergência entre os vários ‘stakeholders’” quanto aos desafios e ambição a longo prazo.
O impacto da adaptação climática, o despovoamento e abandono das terras, e a estrutura desadequada da propriedade são os “três principais desafios na gestão” da floresta portuguesa apontados no estudo e que acarretam “três riscos sistémicos”: a diminuição da área arborizada, a produtividade da área arborizada e o subaproveitamento e degradação do potencial económico florestal.
Os “riscos sistémicos” identificados, esclarece a consultora, resultam de “oito causas”, entre as quais se destaca a questão de a floresta portuguesa ser “desproporcionadamente privada” (98%), de apenas 18% da área vulnerável estar cadastrada e de os processos de fiscalização serem “inexistentes ou ineficazes”.
Para “evitar a degradação das condições de exploração” e potenciar o valor da floresta, o estudo diz ser urgente estruturar um “roteiro” de iniciativas com uma perspetiva de longo prazo.
Entre as medidas, a consultora sugere que se potenciem fontes de rendimento adicionais para os produtores, que os produtores sejam remunerados pelo “valor direto e indireto da floresta”, que se estimule a indústria a expandir para produtos de maior valor com base na floresta e se desenvolva um sistema integrado e simplificado de incentivos e subsídios à floresta.
“É igualmente importante que sejam iniciativas que tenham continuidade, o que exige captar talento, alavancar a tecnologia no setor e melhorar a comunicação com a sociedade”, destaca o estudo.
Citado no documento, Pedro Pereira, ‘partner’ da BCG, defende que a ambição para a floresta portuguesa “tem de passar por equilibrar os objetivos de produção e conservação”.
“Se for reconhecida a importância estrutural da floresta e for construído um compromisso comum (público e privado) para o seu desenvolvimento sustentado, Portugal terá capacidade para definir uma estratégia concertada e mobilizar eficientemente os recursos que ela exige”, acrescenta.