Ninguém rega certinho como S. Pedro. A chuva macia que ontem caiu ao longo do dia estragou os planos para um picnic da turma do meu filho mais novo, mas “valeu ouro” para o milho, disse eu ao mais velho. “Mas nós não pagamos a água dos poços com que regamos!”, respondeu-me. Pois não, mas pagamos a eletricidade… E há campos onde não tenho água de rega ou não temos tempo de ir lá regar. Por isso estas orvalhadas de S. João, temperadas, sem estragar, estão a ser preciosas…
Antigamente os meus pais e avós levavam as vacas para “tocar o engenho” nos poços situados no alto dos campos e regavam o milho pelo pé (rega de alagamento, pelo rego ao pé do milho); Depois vieram os motores de rega a “petróleo” (temos ali no museu um Wisconsin, de 1950) e só mais tarde, com esses motores, com as bombas de rega ligadas aos tratores ou com motores elétricos começou a rega por “aspersão”. Primeiro com os pequenos bicos rotativos, atarrachados em tubos de polegada, ligados a tubos de plástico de 6 metros que se mudavam pelo meio do milho (que frete!); depois com os bicos maiores, os “canhões” de rega em tripés, ainda pelo meio do milho, pelo meio porque tinha de ficar o campo todo cheio de milho e só se cortava o “caminho” pelo meio antes da silagem (outro frete), para meter esse milho cortado na máquina de silagem à posta (frete e meio);
Aqui no Norte (quase) não há pivôs para regar. Um ex-ministro até pensava que não regávamos o milho, porque não via pivôs. Não sabia o que passávamos e ainda passamos com as regas, agora com menos trabalho por hectare, mas com mais área para regar. Há 30 anos, quando as máquinas de rega, enroladores tipo “bauer” ou “irrifrance” eram muito caras, serralheiros portugueses inventaram os “carrinhos de rega”, com material reciclado de carros da sucata (caixa de velocidades, diferencial, rodas dentadas, um cabo de aço e uma mangueira flexível arrastada…. Ainda se fabricam e andam muitos por aí a regar (tenho 3 parados e dois a funcionar) mas entretanto os enroladores democratizaram-se (também comprei três).
Há 15/20 anos ouvimos falar da rega gota-a-gota no milho; eu tinha a ideia desse sistema ser usado, de forma fixa, nas árvores de fruto, não imaginava no milho. Até organizamos uma visita de Estudo até Vagos para ver a sua utilização, sobretudo nos terrenos plano e arenosos. Há 15 anos aluguei uns terrenos arenosos; Reguei-os no primeiro ano com os “carrinhos”, cansei-me e num dia de calor vi uma parte do milho secar.
No ano seguinte comecei a minha experiência a regar 2 ou três hectares em gota-a-gota, usando algum material de ocasião já cheio de pó (relógio, eletroválvulas, tubo de derivação, filtro…) que comprei a uns colegas que tinham experimentado e correu mal. Penso que a falha deles tinha sido regar um terreno com muito declive e as fitas de rega rebentavam na parte de baixo, com o excesso de pressão. A minha experiência correu razoavelmente. Colocamos a fita linha sim, linha não. No ano seguinte reduzi para um hectare, que continuo a regar com esse sistema; há 2 anos experimentei noutro campo (metade) e correu bem. O ano passado tentei regar todo esse terreno, mas tive problemas porque a fita entupiu por causa da sujidade (terra) suspensa na água de rega; no outro campo cheguei a ter problemas com ratos que mordiam a fita e às vezes com insetos que furavam a fita. Há colegas que reutilizam a fita da gota vários anos. O que eu faço (e a maioria, acho) é recolher no fim da campanha para reciclar e comprar fita nova todos os anos.
Custa cerca de 150/200 euros por hectare, a fita, mas poupa-se na eletricidade usada na rega, tanto no consumo como na taxa de potência; Para além dessa poupança, a vantagem é que depois não se tem de mudar a maquina de rega. Outra grande vantagem é poder regar a qualquer hora e não ser afetado pelo vento (muito bom junto a estradas e casas de vizinhos); As desvantagens, como disse, são o custo anual da fita, o custo inicial da mangueira de derivação, a mão de obra para estender, ligar a fita e depois recolher. Não é um sistema perfeito, mas ganhou dimensão e adeptos. É mais uma opção.
Um colega agricultor viu este vídeo e pediu-me opinião e alguns conselhos sobre a gota-a-gota no milho. Aqui está a minha experiência; Quem tiver outras experiências sobre a rega gota-a-gota que possa partilhar, comente, por favor!
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.