O Governo Regional dos Açores vai criar apoios para raças autóctones no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, anunciou hoje o secretário regional da Agricultura, defendendo a importância da sua preservação.
“Estamos a analisar qual será o valor. É um apoio monetário para que se possa incentivar a existência desta raça, como existem para outras raças”, avançou, em declarações à Lusa, o titular da Agricultura e Desenvolvimento Rural nos Açores, António Ventura.
O governante reuniu-se hoje em Angra do Heroísmo com produtores da raça de gado Catrina, a mais recente raça a ser reconhecida como autóctone nos Açores.
Os Açores têm já identificadas seis raças autóctones: o cão Fila de São Miguel, o cão Barbado da Terceira, o burro anão da Graciosa, o pónei da Terceira, o gado Ramo Grande e o gado Catrina.
Segundo António Ventura, os produtores de gado do Ramo Grande já têm acesso a apoios específicos por se tratar de uma raça autóctone, que serão agora alargados à raça Catrina, ao pónei da Terceira e ao burro anão da Graciosa.
Em 2023, o executivo açoriano pretende também criar um plano de orientação de estratégia para as raças autóctones dos Açores, em colaboração com as associações de cada raça e com a Universidade dos Açores.
“Teremos de ter uma linha de atuação, com objetivos a 10 anos, pelo menos, em que possamos não só conservar as raças autóctones que já temos, como clarificar o que vão ser os apoios e também criar investigação relativamente a eventuais outras raças e espécies, quer de diversidade animal como vegetal”, apontou.
O gado Catrina tem atualmente 64 animais registados, para produção de carne, todos na ilha Terceira, mas o secretário regional da Agricultura defendeu que a raça tem potencial de crescimento, sobretudo porque se pode adaptar num cenário de alterações climáticas.
“Esta raça é uma raça de reserva, de diversidade animal, ajustada aos Açores, às condições edafoclimáticas. Convém ter essa reserva ajustada, porque é uma raça que se alimenta dos recursos endógenos e é uma raça que está habituada ao frio e ao vento”, frisou.
Para além da produção de carne, a raça pode ser utilizada para produção de leite e até na criação de um “circuito turístico”, segundo António Ventura.
“Interessa existir este património, quer para mostrar a quem nos visita e mesmo às comunidades locais, quer no âmbito didático”, vincou.
Filomena Brasil herdou uma exploração de gado Catrina do tio João Ângelo, um dos principais responsáveis pela manutenção da raça na ilha Terceira.
“Decidi continuar porque era um gosto do meu tio. Isso é que me fez seguir. Não que eu estivesse muito por dentro disso, mas sempre fui criada a ouvir falar naquelas vacas”, adiantou.
Com 15 vacas atualmente, a exploração “tem vindo a crescer” e Filomena espera que continue a evoluir, com apoios já dados a outras raças.
Guilherme Oliveira adquiriu há oito anos alguns animais da raça que conheceu na exploração do avô. Hoje tem 16 cabeças de gado, mas também pretende expandir a exploração.
“É uma vaca morfologicamente diferente, com um comportamento diferente, mais temperamental. Sempre gostei deste tipo de gado”, revelou.
O produtor reconheceu que o maneio desta raça é “mais difícil”, mas considerou que pode ser uma aposta no futuro.
“Eu penso que sim, quando se começar a ver as qualidades delas e os benefícios que elas podem trazer a certas explorações nos Açores. É um tipo de vaca que se alimenta com uma pastagem pobre, que vai buscar os nutrientes todos que pode”, afirmou.