O Grupo Operacional AGIR desenvolveu um sistema de avaliação inovador que contribui para melhorar a eficiência do uso da água e da energia na agricultura. Mais de 50 entidades gestoras de água e 200.000 hectares de regadio público podem vir a beneficiar desta ferramenta pioneira.
Otimizar o uso da água e da energia no regadio, reduzindo perdas e melhorando a eficiência, é o objetivo de uma nova ferramenta de diagnóstico e avaliação desenvolvida pelo Grupo Operacional AGIR, que apresentou os resultados finais do projeto num workshop online, no Dia Nacional da Água, a 1 de outubro, numa organização conjunta com a APRH, a Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos.
Vídeo do workshop final do AGIR
É a primeira vez que se desenvolve em Portugal, e a nível internacional, uma ferramenta deste género aplicada à agricultura. Nos sistemas urbanos, uma metodologia semelhante é aplicada já há alguns anos na avaliação de cerca de 400 entidades gestoras de água a nível nacional.
A nova matriz funciona como um sistema de semáforos, avaliando indicadores de desempenho tais como perdas de água por repassos em canais e condutas, avarias em instalações elétricas, ou planeamento de manutenção das infraestruturas de distribuição de água. Este diagnóstico sistematizado apoia a tomada de decisão dos aproveitamentos hidroagrícolas sobre como, onde e quando intervir para melhorar a distribuição da água e o uso da energia associado à bombagem. A avaliação é realizada através de uma aplicação computacional desenvolvida pelo consórcio de I&D do AGIR.
Os três aproveitamentos hidroagrícolas onde decorreu o projeto-piloto descreveram as mais-valias: «o AGIR deu-nos ferramentas para quantificar de forma rigorosa perdas de água e ineficiências energéticas, que nos ajudam a perceber onde e como melhorar», afirma Manuel Matos, técnico da Associação de Beneficiários da Obra da Vigia.
Carlos Chibeles, técnico da Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas, apontou alguns dos efeitos práticos do AGIR: «passámos a fazer dupla medição, com telegestão e contagem física no local, para detetar erros e reduzir as perdas aparentes de água. Por outro lado, concluímos ser necessário substituir motores elétricos nas estações de bombagem, que representam o grosso do consumo de energia».
Já Gonçalo Sousa, em representação da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia (ARBVS), considerou que «a grande mais-valia do AGIR é a base sólida criada para planeamento estratégico de ações de reabilitação e modernização dos aproveitamentos hidroagrícolas portugueses», indicando que, na sequência do AGIR, a ARBVS já tem em curso ações de reabilitação de regadeiras e canais e do sistema de telegestão.
Este sistema de avaliação é uma ferramenta fácil de implementar e poderá vir a ter impacto regional e nacional, servindo de base à definição de políticas públicas nacionais na área do regadio. Recorde-se o sistema desenvolvido pelo AGIR já foi aplicado como referência no Plano de Eficiência Hídrica da Região do Algarve.
Os desafios e oportunidades deste sistema de avaliação de desempenho foi debatido numa mesa-redonda, moderada por José Manuel Gonçalves, presidente do Comissão Especializada de Água, Agricultura e Florestas da APRH.
Helena Alegre, diretora do departamento de água e ambiente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, afirmou que «é muito importante que o sistema de avaliação criado pelo AGIR venha a ser transformado numa ferramenta nacional, tal como aconteceu nos sistemas urbanos de distribuição de água».
Por seu turno, Susana Rodrigues, diretora do departamento de qualidade da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, apontou as mais-valias da avaliação de desempenho nos sistemas de abastecimento de água urbanos e deixou alguns conselhos úteis para a implementação de um sistema semelhante no regadio a nível nacional.
Rita Barradas, gestora do PDR2020, elogiou os resultados obtidos no AGIR: «este sistema de avaliação é determinante para as associações de regantes, para avaliação da sustentabilidade dos sistemas, identificação de prioridades de investimento em reabilitação e escolha das soluções técnicas a implementar» e mostrou recetividade à aprovação de uma futura candidatura da geração 2.0 do AGIR, englobando um maior número de aproveitamentos hidroagrícolas.
O presidente da FENAREG, José Núncio, defendeu que «o passo seguinte ao AGIR é a necessidade de investimento em reabilitação das infraestruturas dos aproveitamentos hidroagrícolas, alguns com mais de 80 anos, em equipamentos de monitorização e na formação dos técnicos».
Também falando de futuro, o presidente do COTR, Gonçalo Morais Tristão, considerou que «a certificação dos regantes, atestando o uso eficiente da água e da energia, será um passo lógico para o futuro».
O projeto AGIR teve início em 2017, com duração de 4 anos, foi liderado pela FENAREG- Federação Nacional de Regantes e financiado pelo PDR2020, na Operação 1.0.1 – Grupos Operacionais. Da parte da investigação participaram neste Grupo Operacional: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Universidade de Évora, Instituto Politécnico de Setúbal; Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e Centro de Competências para o Regadio Nacional. Participaram três entidades gestoras de Aproveitamentos Hidroagrícolas: ABORO – Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas; ARBVS – Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia e ABOVIGIA – Associação de Beneficiários da Obra da Vigia – e três empresas agrícolas: Sociedade Agrícola Bico da Vela II; AGRO-VALE Longo, Lda e Mencoca Agricultura, Lda.