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Guterres alerta G7 para risco de múltiplas situações de fome e diz que “2023 pode ser ainda pior”

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou hoje o G7 para o “risco real” de serem declaradas várias fomes este ano e para “catástrofes” iminentes em vários países, frisando que “2023 pode ser ainda pior”.

Enfrentamos uma crise de fome global sem precedentes. (…) Isso já era evidente quando visitei a região do Sahel na África no mês passado. Os líderes avisaram-se que, a menos que atuemos agora, uma situação perigosa pode transformar-se numa catástrofe. O Corne de África está a sofrer a sua pior seca em décadas”, disse Guterres numa conferência ministerial híbrida do G7 em Berlim sobre Segurança Alimentar Global.

Além da Alemanha, que preside atualmente ao G7, o grupo das principais potências económicas mundiais integra os Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Japão.

Citando dados do Programa Alimentar Mundial (PAM), Guterres frisou que, nos últimos dois anos, o número de pessoas com insegurança alimentar severa em todo o mundo mais do que duplicou, chegando a 276 milhões.

Se a situação não for regularizada com celeridade, todas as colheitas serão atingidas, incluindo arroz e milho, afetando milhares de milhões de pessoas em toda a Ásia, África e Américas, de acordo com o secretário-geral da ONU, que apontou a guerra na Ucrânia com responsável pelo agravamento dos problemas, que já se vinham manifestando devido a questões climáticas, à pandemia de covid-19 e a desigualdades profundas.

“As questões de acesso a alimentos deste ano podem tornar-se na escassez global de alimentos no próximo ano. Nenhum país estará imune às repercussões sociais e económicas de tal catástrofe”, sustentou.

Frisando que esta não é apenas uma crise alimentar e que exige uma abordagem multilateral coordenada, com soluções multidimensionais, o ex-primeiro-ministro português insistiu que não pode haver solução eficaz para a crise alimentar global sem que seja reintegrada a produção de alimentos da Ucrânia, bem como os alimentos e fertilizantes produzidos pela Rússia, nos mercados mundiais, apesar da guerra.

“Tenho estado em contacto intenso com a Federação Russa, Ucrânia, Turquia, Estados Unidos, União Europeia e outros sobre esta questão. A secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, e o meu chefe humanitário, Martin Griffiths, continuam as conversações, com o objetivo de alcançar um pacote que permita à Ucrânia exportar comida, não só por terra, mas também pelo Mar Negro, e que trará comida russa e fertilizantes para os mercados mundiais sem restrições”, contou.

Contudo, optou por não fornecer mais detalhes “porque declarações públicas podem prejudicar o sucesso” da operação, disse.

Guterres apelou ainda, perante o G7, à resolução da crise financeira no mundo em desenvolvimento, para que “ninguém seja deixado para trás”.

“As discussões de hoje são uma oportunidade para medidas concretas para estabilizar os mercados globais de alimentos e combater a volatilidade dos preços das ‘commodities’. Precisamos de uma forte liderança política e do setor privado para uma resposta multilateral coordenada. Não podemos aceitar a fome em massa em pelo século XXI”, concluiu.

Esta conferência reúne ministros dos países do G7, lideranças da ONU, assim como ministros dos principais países doadores e dos países mais vulneráveis e mais afetados, filantropos e sociedade civil para discutir ações conjuntas em prol de uma resposta à atual crise alimentar.

A guerra da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que já está a afetar, em particular, os países mais pobres.

Juntas, a Ucrânia e a Rússia produzem quase um terço do trigo e da cevada do mundo e metade do óleo de girassol, enquanto a Rússia e a sua aliada Bielorrússia são dos maiores produtores mundiais de potássio, um ingrediente-chave de fertilizantes.

Nesse sentido, a guerra levou a um aumento nos preços mundiais de cereais e óleos, cujos valores superaram os alcançados durante as Primaveras Árabes de 2011 e os “motins da fome” de 2008.


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