Aquilo que as penas não fazem, infelizmente, é combater incêndios, reformar a floresta, aproveitá-la economicamente, reorganizar o território, repovoar o interior ou resolver a emergência climática.
Neste Verão politicamente quente, em que a temperatura ameaça continuar a subir, as nossas florestas não param de arder. Perante as chamas incessantemente transmitidas na televisão, os pirómanos deleitam-se; nós choramos! Vamos aumentar as penas de prisão para os incendiários?
Numa das mais belas passagens das “Cartas a Um Jovem Poeta”, Rainer Maria Rilke escreve que “os homens têm, para todas as coisas, soluções fáceis e convencionais, as mais fáceis das soluções fáceis. Contudo, é evidente que se deve preferir sempre o difícil: tudo o que vive lá cabe”.
Recordo frequentemente este trecho quando reflito sobre os desafias que a vida me coloca a mim e aos meus filhos, mas, sobretudo, quando penso nos desafios que o nosso país enfrenta, sempre concluindo que a sentença do poeta tem plena aplicação à forma atávica como em Portugal se faz política e se gere a res publica. Há dois ou três exemplos seminais desta nossa neurose coletiva que ora nos faz escolher o mais fácil do fácil, ora nos leva ao outro extremo.
No pico do Verão, quando a Serra da Estrela ardia, voltou a propor-se o aumento da moldura penal para o crime de incêndio florestal, chegando-se a comparar os autores dos fogos postos a terroristas, deixando-se no ar a ideia de que o melhor para estes criminosos era a prisão perpétua. Salvo o devido respeito pelas mais variadas opiniões e sensibilidades que convivem numa sociedade pluralista, e dando até o benefício da dúvida por se tratar de um tema sensível e emotivo para os portugueses, principalmente desde 2017, tenho […]