Há trufas em Portugal? O chef Tanka trouxe os cães que podem dar a resposta

Lola e Laika vieram de Itália com o seu dono, o caçador de trufas Giovanni. No Vimioso, encontraram para já terrenos propícios e pequenas bolinhas com aroma a trufa. Mas ainda é cedo para festejar.

Caminhamos o mais silenciosamente que conseguimos, sussurrando uns para os outros. A cadela Lola vai à frente e nós, um grupo de umas dez pessoas, seguimo-la. A única voz que se eleva é a de Giovanni, o dono de Lola, que a vai incentivando: “Lola, Lola, aqui, aqui, procura.”

Ela avança rápido, focinho colado ao chão, parando aqui e ali para cheirar melhor, e, de repente, começa a afastar a terra com as patas, ansiosamente, abrindo um pequeno buraco. Sustemos a respiração e Giovanni precipita-se para a cadela, que já tem algo na boca, que ele retira cuidadosamente, mas com firmeza. Será uma trufa? É cedo para dizer.

Giovanni Longo é um caçador de trufas do Piemonte, uma das regiões mais famosas do mundo devido a este misterioso fruto da floresta. Está agora, acompanhado pelas suas duas cadelas, Lola e Laika, no Vimioso, em Trás-os-Montes, Norte de Portugal, a convite do chef Tanka Sapkota e da mulher deste, Sita (proprietários, em Lisboa, dos restaurantes Come Prima, Il Mercato, Forno d’Oro e Casa Nepalesa). Há uns três ou quatro ano que Tanka alimenta um sonho: encontrar trufas em Portugal.

Este é um projecto próprio, sem qualquer apoio ou financiamento exterior. É movido pelo entusiasmo do chef de origem nepalesa a viver em Portugal há quase três décadas – um entusiasmo que contagiou não só Giovanni como Celeste Santos e Silva, professora da Universidade de Évora e especialista em micologia e, sobretudo, em cogumelos hipógeos (subterrâneos, como são as trufas), e o engenheiro florestal Afonso Menezes, também ele especializado em cogumelos.

Ambos fazem parte do grupo que avança atrás de Lola por uma zona de azinheiras. Tínhamos passado na estrada a caminho de outra localização, e Giovanni propusera que parássemos ali. O terreno parecia propício. E, de facto, depois de subirmos um pouco, chegámos a uma zona onde Lola, a mais velha e mais experiente das duas cadelas, encontrou debaixo da terra as pequenas bolinhas que exalam, indiscutivelmente, um perfume de trufa.

No entanto, tudo aconselha prudência. Sandra, a assistente de Celeste, guarda-as numa caixinha. Terão de ser levadas para a Universidade de Évora para serem analisadas. “Neste momento, a única coisa que podemos dizer é que são cogumelos hipógeos, que estão relativamente próximos da superfície”, afirma a professora. “Quando estão maduros, têm esporos e podemos ver o que são.”

O engenheiro Afonso observa o local e faz algumas constatações. “Há aqui uma mistura de calcário com silicatos, o que torna os solos mais neutros.” Mas a simples observação a olho nu não é suficiente. Celeste e Sandra colocam na terra um aparelho para medir o pH do solo e, ao fim de pouco tempo, têm um número: 7.

Todos parecem encorajados. É um valor relativamente elevado (o mais elevado que encontraram nos três dias que já levam no terreno) e ideal para o desenvolvimento de trufas. Isso, associado ao tipo de vegetação e ao facto de se terem encontrado as pequenas bolinhas, parece promissor.

Celeste leva também consigo uma amostra de solo, para ter mais informação. Tanka não esconde o entusiasmo. “Podíamos inocular aqui”, diz. “E quem sabe se daqui a 20 anos este terreno não é uma zona turística. Esse é o meu sonho. Eu não vou ganhar nada com isto, mas é um sonho.”

O terreno fica perto de Vila Chã e seria preciso descobrir a quem pertence. Um plano realista, acredita o engenheiro Afonso Menezes, seria “envolver as universidades e pôr alunos estagiários a fazer mais pesquisa”. Depois, em conjunto com o proprietário do terreno, encontrar uma forma de financiar a […]

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