Em Itália, as árvores de kiwis estão a morrer em massa e os cientistas não sabem porquê. Segundo anunciou o Governo italiano, já existe um grupo de ação (taskforce) para estudar a doença “misteriosa”, ainda sem cura, que está a devastar os pomares de kiwi no país, deixando os cientistas perplexos.
As folhas murcham e ficam viradas para baixo como que para escapar ao sol, as raízes escurecem e apodrecem. Depois as folhas caem: dentro de 10 dias desaparecem, deixando os kiwis expostos ao sol. Dentro de um ou dois anos, a planta estará seca e vai acabar por morrer.
“Os danos na produção estão a causar sérios sofrimentos às explorações agrícolas”, disse a ministra da agricultura italiana, Teresa Bellanova, citada pelo The Guardian. A responsável considera a situação uma “emergência” e acredita que o país precisa da “ajuda de todos os peritos”.
Depois de ter surgido perto de Verona em 2012, a síndrome a que os agricultores chamam morìa tem devastado áreas onde os kiwis prosperam há décadas. Estimativas recentes sugerem que, agora, afecta 25% dos pomares de kiwi em Itália – o segundo maior produtor mundial da fruta, acima da Nova Zelândia e abaixo da China.
A síndrome está a causar perdas no valor de centenas de milhões de euros aos agricultores.
Em alguns pontos, o número de plantas afectadas sobe para 80%. No entanto, os investigadores dizem que os números reais podem ser ainda mais elevados. Como a síndrome começa nas raízes, pode propagar-se sem ser observada até aos sintomas da primeira folha. Por essa altura, a doença já está demasiado avançada.
“É como o novo coronavírus: quando os sintomas aparecem, já é demasiado tarde”, compara Gianni Tacconi, um investigador genómico do Conselho Italiano de Investigação Agrícola e Economia, que tem estudado o kiwi desde o início dos anos 2000. “É difícil para os humanos curar; para os kiwis, eu diria que é impossível”, sublinhou, citado pelo The Guardian.
Os investigadores procuraram a causa nas práticas de irrigação, bactérias, fungos, composição do solo e doenças específicas de replantação – mas não encontraram nenhum culpado claro, já que quanto mais estudavam, mais anomalias surgiam.
A síndrome atinge plantações velhas e jovens, em solo virgem e em quintas com décadas. Mata árvores rapidamente, mas poupa outras a alguns metros de distância.
Estudos encontraram um caleidoscópio de diferentes agentes patogénicos em árvores doentes, no entanto, nenhum estava presente em todas as plantas doentes.
Os cientistas acreditam que vários factores, tais como a água, os níveis de oxigénio no solo, o aquecimento global e os fungos, estão em jogo, mas não conseguem explicar como ou porque é que a doença se alastrou tanto em áreas onde a exploração de kiwi costumava ser fácil.
Os investigadores têm observado sintomas semelhantes em pomares des kiwis em França, Espanha, Grécia, Turquia, Japão e China. Porém, em nenhum lugar foram tão “explosivos” como em Itália. Perto de Verona, a síndrome atingiu 84% das árvores.
O artigo foi publicado originalmente em Executive Digest.