José Pedro Salema

“Há vantagens em termos feito um Alqueva só no século XXI”

À frente da empresa gestora do Alqueva desde 2013, José Pedro Salema faz o balanço de duas décadas do empreendimento que alterou para sempre o Alentejo. Depois do efeito da agricultura de regadio na produção e exportação de azeite, espera que nos próximos anos outras culturas ganhem peso numa zona de intervenção que realça contrastar com o resto dessa região do país.

Vinte anos após o encerramento das comportas, consegue imaginar como seria hoje o Alentejo sem Alqueva?

É um exercício que nem quero fazer. Se calhar, basta pensarmos nas zonas que não são servidas pelo Alqueva e ver o que podia ser todo o Alentejo. Ver as zonas mais a sul, como Almodôvar, com as precipitações mais baixas do país e Verões quentíssimos, pelo que só é possível fazer culturas muito resistentes, sobretudo no Outono e Inverno. Ver as densidades populacionais, muitas vezes abaixo do limiar daquilo a que chamamos um deserto, ou comparar Portalegre com Beja. Eram de dimensão parecida mas, agora, a última tem actividade económica e pessoas novas a trabalhar e a viver. Já para não falar no abastecimento: nas últimas secas, se não fosse o Alqueva, Beja e Évora não teriam tido água para beber.

Ainda por cima numa altura em que as secas se tornam um fenómeno recorrente…

A seca é uma característica do nosso clima, e não propriamente uma novidade. Podemos dizer é que surge com mais frequência e mais intensidade. E não seria uma aldeia perdida no meio do Alentejo sem água, mas sim duas capitais de distrito.

O Alqueva foi um projecto adiado durante décadas. Diria que Portugal perdeu tempo precioso ou tudo aconteceu quando havia condições para que acontecesse?

Deixo essa análise para historiadores. Gosto de me concentrar naquilo que temos hipótese de mudar. Não estava na EDIA quando se tomaram as primeiras decisões e fazemos o melhor que sabemos no presente. Mas gosto de ser optimista e há vantagens em termos feito um Alqueva só no século XXI. Têm a ver com o uso de tecnologia muito mais eficiente e no cuidado da análise de várias vertentes. O Alqueva não foi o primeiro grande projecto a ter uma avaliação de impacto ambiental, mas foi o primeiro a ter uma profundidade e uma dimensão nas medidas de compensação e de minimização que não se conheciam em Portugal. Se o tivéssemos feito há 50 anos, avançava-se e hoje estaríamos muito pior.

Há 50 anos, o Alentejo era o celeiro de Portugal. O Alqueva tornou-o o olival de Portugal? […]

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