O consumo de alimentos de origem animal desempenhou um papel fundamental no processo evolutivo humano.
O consumo de carne – primeiro crua e simplesmente preparada com recurso a ferramentas de pedra, e, posteriormente, após a descoberta do fogo, cozinhada – possibilitou aos nossos ancestrais um menor gasto energético na mastigação. O tratamento térmico da carne também permitiu eliminar microrganismos patogénicos e facultar a possibilidade de uma conservação mais prolongada dos alimentos.
A mudança dos hábitos alimentares, decorrente da introdução de carne na dieta e da sua cozedura, reduziu a energia despendida na mastigação, o que ao longo de milhões de anos promoveu o aumento do cérebro que, por sua vez, passou a consumir mais energia para assim contribuir para a evolução cognitiva dos seres humanos (Homo sapiens), que por isso apresentam uma inteligência excecional – caraterística mais relevante da evolução humana.
Atualmente, o consumo de alimentos ricos em proteína animal (carne, leite, ovos, pescado), juntamente com fontes de hidratos de carbono, legumes, fruta e lípidos, proporciona dietas nutricionalmente equilibradas e saudáveis, adequadas às necessidades do homem.
Também se tem observado que a população com elevado consumo de proteína animal (e.g. holandeses) apresenta uma estatura elevada; ao invés, populações com baixo consumo de proteína animal, como se verifica nomeadamente nalgumas regiões em desenvolvimento, as pessoas são relativamente baixas. No caso concreto de Portugal, principalmente após a década de 1950, as disponibilidades financeiras das famílias aumentaram progressivamente e, entretanto, emergiram empresas zootécnicas que iniciaram modernas práticas de produção animal, suscetíveis de proporcionar aos consumidores carne, leite e ovos a preços acessíveis, tudo concorrendo assim para elevar substancialmente o consumo destes bens alimentares, ricos em proteína animal. Entre nós, nos últimos cem anos, observou-se uma elevação média da estatura da população da ordem dos 13 cm. Independentemente das estatísticas, a simples comparação da estatura de um jovem de hoje com a dos seus avós ou quiçá bisavós, por via de regra denota uma diferença notória. E, como todos sabemos, ninguém gosta de ser baixinho, o que leva inclusive alguns políticos a usar tacões altos nos sapatos, um famoso filantropo que viveu num hotel de Lisboa sentava-se numa mesa discretamente sobrelevada e, na seleção dos modelos de moda, a estatura representa um requisito básico para desfilar na passarela.
Uma dieta rica em proteínas de origem animal contribui também para melhorar a condição do tónus muscular, como é bem conhecido pelos atletas de alta competição, e evita a perda muscular decorrente do avanço da idade.
As vantagens anteriormente reveladas decorrem do facto das proteínas em apreço apresentarem um alto valor biológico, ou seja, possuem quantidades adequadas de aminoácidos essenciais, aqueles que não são sintetizados pelo organismo humano e, por isso, devem ser supridos através de uma alimentação proteíca apropriada, que ademais contém minerais e vitaminas de elevado valor nutritivo, para além de uma quantidade variável de gorduras.
Acresce que, por via de regra, os bens alimentares de origem animal apresentam caraterísticas organolépticas muito apreciadas pela generalidade dos portugueses: recorde-se o leitão assado, o frango e o cabrito grelhados, o presunto serrano, um bom bife de vaca, o bacalhau com grão, etc. Nas circunstâncias felizes da vida (aniversários, etc.) os portugueses reunem-se à volta de uma boa refeição, numa convivência rica em humanismo. Recorde-se que a cozinha francesa foi incluída pela UNESCO no património imaterial da Humanidade.
E, à semelhança do que acontece com a generalidade das atividades humanas, a produção animal está associada a alguma externalidade ambiental, nomeadamente é responsável por 10,7% dos gases de efeito de estufa (GEE) produzidos em Portugal. Mas, por outro lado, importa salientar que o setor animal representa 45% do valor da produção agrícola total portuguesa, criando emprego e riqueza social em múltiplas áreas rurais.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
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