No início dos anos 90, Hugh Laurie (o eterno Dr. House, embora seja muito, muito mais do que isso) deu-nos “The Protest Song”, uma música revolucionária que prometia a solução para todos os problemas do mundo. A letra corria assim:
Well the poor keep gettin’ hungry
And the rich keep gettin’ fat
Politicians change
But they’re never gonna change that
But you and me, girl
We got the answer right in our hands
All we gotta do is… flsfrlslv
(Bom, os pobres continuam com fome
E os ricos continuam a engordar
Os políticos mudam
Mas nunca vão mudar isto
Mas tu e eu, miúda
Temos a resposta nas nossas mãos
Tudo o que temos de fazer é… flsfrlslv)
A música continuava no mesmo tom deliciosamente satírico, a prometer sempre uma solução que se materializava, no refrão, num murmúrio ininteligível ou num solo com a harmónica. Dei por mim a lembrar-me de “The Protest Song” ao ler e ouvir comentários sem fim sobre como as causas dos incêndios e a forma de os resolver são “óbvias”. Um problema complexo, que ninguém há décadas consegue resolver, e que tende a piorar, mas que qualquer português sabe exatamente como solucionar: a única coisa que temos de fazer é… flsfrlslv.
Comecemos pelo ridículo, antes de irmos às coisas sérias: o Chega propõe equiparar incendiários a terroristas, defendendo a prisão perpétua para quem ateie fogos. Sim, é muito reconfortante imaginar que os incendiários são sofisticados mestres do crime, vilões de James Bond que odeiam árvores, mas na realidade são quase sempre pobres coitados. Segundo a psicóloga Cristina Soeiro, da Polícia Judiciária, que entrevistou centenas de incendiários nos últimos anos, a maioria sofre de demência alcoólica e/ou défice cognitivo, além de ser analfabeta ou ter apenas o primeiro ciclo. Estas pessoas precisam de acompanhamento e tratamento, não de passar o resto da vida atrás das grades.
Populismos à parte, quais são os outros suspeitos do costume? Os madeireiros, que há quem equipare a poderosos traficantes de droga, porque supostamente pagam menos […]