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Incêndios: Autarca atribui à falta de meios aéreos “cenário desolador” em Carrazeda de Ansiães

O presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães atribuiu hoje à falta de meios aéreos as proporções do incêndio que lavra há cinco dias neste concelho do distrito de Bragança, com prejuízos que provocaram “um cenário desolador”.

João Gonçalves adiantou à Lusa que “arderam cerca de 3.500 hectares”, com prejuízos que ainda vão ser quantificados em várias culturas agrícolas, no incêndio “de enormes proporções”, que começou a meio da tarde de quinta-feira e ainda mobilizava, às 18:30 desta segunda-feira, 115 operacionais e 34 viaturas.

O fogo ainda não está extinto, mas “está totalmente confinado”, segundo o autarca, que atribui à falta de meios aéreos as proporções que o incêndio tomou, numa zona de difícil acesso, devido às características rochosas, onde o combate às chamas por terra era praticamente impossível.

“A falta de acessos foi a grande preocupação, o que saltou à vista era a dificuldade que as forças terrestres – e estiveram lá cerca de duas centenas de operacionais no terreno – tinham no acesso ao combate”, apontou.

O autarca disse à Lusa que, durante o incêndio, fez “sentir junto do Governo, nomeadamente da secretária de Estado da Administração Interna, a preocupação e o pedido para que, “dentro do possível, os meios aéreos tivessem sido disponibilizados em quantidade suficiente para que se controlasse o incêndio”

“Eu lamento que o nosso país continue ainda menos preparado para ter meios disponíveis para estes momentos que são momentos terríveis. Eu não sou um especialista na matéria, mas eu julgo que se houvesse mais meios disponíveis, nomeadamente meios aéreos, teria sido possível evitar que esta área ardesse”, afirmou.

O presidente de Carrazeda de Ansiães espera que este caso seja “um alerta” e entende que “o país tem que se preparar” para este “flagelo que nos assola há tantos anos” e estar “prevenido para estas ocasiões”.

“Eu bem sei que havia outros incêndios a lavrar no território continental, mas nós não podemos estar fragilizados ao ponto de havendo três ou quatro incêndios de maiores proporções, já termos menos capacidade de resposta”, considerou.

João Gonçalves concretizou que na sexta-feira estiveram no combate às chamas cinco meios aéreos e o incêndio foi dado como controlado, mas durante a noite voltou a descontrolar-se e, no sábado, “andavam dois meios aéreos”.

“Poucos, pelo menos, para aquilo que sentíamos necessário”, frisou.

Segundo disse à Lusa, o incêndio ainda não se extinguiu, mas está confiando numa zona chamada de Ferradosa e não deverá progredir, devendo entrar em fase de rescaldo brevemente.

O autarca salientou que “populações e habitações nunca estiveram em perigo fruto do trabalho que as diversas forças de Proteção Civil que estiveram presentes desempenharam e tiveram sempre esta prioridade”.

“Nas diversas localidades onde o fogo esteve próximo, foi sempre possível proceder a essa barreira de segurança e isso felizmente nunca foi posto em causa”, enfatizou.

Já os prejuízos nas culturas num concelho essencialmente agrícola foram avultados e “há custos enormes em termos da fonte de rendimento de muita gente”.

“Estamos a falar de uma área muito grande de sobreiros e pinheiros, também olival, há relatos de perda de muitos apiários e de vinhas, porque, na parte final, o incêndio entrou pelo Douro Vinhateiro e também aí causou muitos prejuízos”, indicou.

O autarca disse que já contactou com a Diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte e que acredita que a ministra da Agricultura também já tem conhecimento do que se passou.

“Foi-me prometido que nos próximos dias será feito um levantamento pela Direção Regional de Agricultura e uma estimativa de custos e depois, perante esse levantamento, tentarmos ver se há alguns instrumentos que o Governo possa pôr ao dispor destes agriculturas para minimizar estes prejuízos”, afirmou.

De acordo com João Gonçalves, a representante na zona Norte do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) também esteve no local durante o incêndio e falaram “na hipótese de o instituto fazer também esse levantamento na parte florestal e perspetivar como se é que se poderá intervir nesta área ardida”.


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