O presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) considerou hoje que é necessário especializar a operação de extinção de incêndios para evitar “tantos reacendimentos”, como aconteceu em alguns dos grandes fogos das últimas semanas.
“O conhecimento ainda é limitado. O plano nacional da qualificação está nos seus primeiros passos. É necessário especializar a operação de extinção para evitar tantos reacendimentos com mais utilização de maquinaria”, disse à agência Lusa Tiago Oliveira.
O responsável defendeu que é preciso ter “gente dedicada a gerir o fogo dentro do território florestal, enquanto as forças mais especializadas, os bombeiros, se focam na proteção das habitações”.
Tiago Oliveira considerou que, como o conhecimento “não está ainda distribuído por todo o país, o sistema não vai ser capaz de gerir vários incêndios com complexidade e desafios” ao mesmo tempo.
Segundo o presidente da AGIF, a preocupação e estratégia montada desde 2018 e, enquanto a floresta demora a ser gerida com profissionalismo, “o grande desafio” é reduzir o número de ignições, tendo em conta que o sistema “tem capacidade para gerir a complexidade de uma ou duas situações”.
“A preocupação tem sido de facto reduzir as ignições para que o sistema consiga dar a resposta e consiga que, das várias vezes que aconteça, só um ou dois tenham a infelicidade em se transformaram em grandes incêndios. Depois haja capacidade de fazer evacuações a tempo, gerir o corte de estradas e, por fim, conseguir que não haja fatalidades civis nestes eventos complexos”, disse.
O responsável pela agência, que tem como missão a coordenação estratégica, frisou que tem existido “uma adaptação do comportamento”, uma vez que o número de incêndios não ultrapassou os 200 em dias de mais calor, mas é necessário “fazer melhor”.
“Se compararmos com 2003, em que houve uma situação meteorológica semelhante, o pico, nas semanas passadas foi 200 ou 180 incêndios, que é metade do que foi verificado em 2003”, disse.
Segundo o presidente da AGIF, os incêndios este ano consumiram, até à data, cerca de 60.000 hectares de área ardida e os fogos que deflagraram em Murça, Carrazeda de Ansiães, Leiria e Pombal “tiveram muito impacto” no património florestal e no património natural, além das perdas materiais de bens e nas propriedades.
Tiago Oliveira considerou que “há uma área significativa que necessita de intervenção, de consolidação de emergência e de medidas políticas e de incentivos para que a recuperação seja mais célere do que foi nos anos anteriores”.
De acordo com o mesmo responsável, quando arde uma área “é uma excelente oportunidade para reorganizar e fazer um projeto de reorganização florestal com sentido e propósito”.
Portugal continental esteve, pela primeira vez, entre 11 e 17 de julho em situação de contingência, segundo nível de resposta previsto na Lei de Bases da Proteção Civil, devido ao risco extremo de incêndios, passando depois para alerta (nível mais baixo) até ao dia 21.
Atualmente a situação não é de exceção devido à situação de seca, mas as previsões meteorológicas de verão enquadram-se na capacidade normal de resposta de antecipação e previsão do dispositivo especial de combate a incêndios rurais.
Desde 08 de julho que ardeu em de Portugal mais de 45 mil hectares de florestas, num total de 59.221 desde o início do ano, a maior área ardida desde 2017 e a segunda maior década.
Desde o início do ano registaram-se 7.094 ocorrências de incêndio florestal.