O ministro da Administração Interna destacou hoje a “capacidade de fiscalização” mobilizada no combate aos incêndios, após ter sobrevoado os fogos de Carrazeda de Ansiães e de Ourém, a bordo de uma aeronave P-3C Cup+ da Força Aérea.
Em dia de calor intenso em todo o território nacional, o P-3C Cup+ descolou às 10:29 da Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa, rumo aos locais onde lavram incêndios em Ourém, no distrito de Leiria, e em Carrazeda de Ansiães, no distrito de Bragança.
Pouco depois de subir a bordo da aeronave, José Luís Carneiro – acompanhado pela secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar –, destacou a “capacidade de fiscalização” do P-3C Cup+ no combate aos incêndios florestais.
“Os 230 postos de fiscalização que estão em todo o território nacional e que são coordenados pela Guarda Nacional Republicana [GNR], juntamente com os mecanismos de fiscalização aérea, em integração, permitem-nos garantir a fiscalização de todo o território nacional e detetar, com eficácia, aqueles que atentam contra a segurança coletiva”, sublinhou o ministro.
Divida entre uma ‘flight station’ – em referência ao ‘cockpit’ – e uma cabine técnica onde os militares observam ecrãs para monitorizar os incêndios, o P-3C Cup+ é uma peça chave do dispositivo de deteção e fiscalização coordenado pela Guarda Nacional Republicana (GNR).
Verdadeira ‘torre de controlo’ dos incêndios no céu, a aeronave da Força Aérea é composta por uma tripulação de 13 militares e dotada de uma câmara térmica que lhe permite monitorizar incêndios e detetar reacendimentos ou focos iniciais.
Em declarações à agência Lusa, o major Hélder Ferreira, comandante da Esquadra 601 – responsável pelos cinco P-3C Cup+ de que dispõe a Força Aérea –, sublinhou que a aeronave consegue “contar e mapear todos os focos de incêndio que existem neste momento”, e transmitir essa informação para as forças de segurança que coordenam o combate aos incêndios no solo.
“Imagine que, neste momento, temos um reacendimento a sul de Castelo Branco, nós encontramos o reacendimento, o coordenador tático mapeia o local, passa as coordenadas para o navegador, e o navegador imediatamente passa as coordenadas para o chão, para o Comando Distrital de Operações de Socorro [CDOS]”, explicou.
Como que para comprovar a eficácia da aeronave, 15 minutos após a descolagem, o coordenador tático do P-3C Cup+ deteta, numa imagem a preto e branco, o incêndio que lavra desde quarta-feira na região de Ourém e os diferentes meios de combate que estão a ser mobilizados.
Sem capacidade de coordenação ou tomada de decisão – a não ser em circunstâncias excecionais –, o P-3C Cup+ serve, acima de tudo, para recolha de dados. Equipado com seis rádios, a aeronave consegue transmitir, em tempo real, a localização dos focos de incêndio, assim como as imagens captadas pela câmara térmica.
“Nós dizemos a posição, dizemos o diâmetro ou o raio do foco de incêndio, e o CDOS é que destaca os meios para o local”, informa o major Hélder Ferreira, que destaca ainda a capacidade da câmara, equipada por uma lente de infravermelhos, capaz de detetar situações de fogo posto, seja de noite ou de dia.
Para o ministro da Administração Interna, o facto de, este ano, já terem sido detidos 47 indivíduos e identificados “mais de 500 suspeitos” de fogo posto – quando, no ano passado, esse número tinha ficado pelos 300 –, testemunha a “eficácia dos meios de vigilância e de fiscalização” disponibilizados este ano.
Do ‘cockpit’ da aeronave, José Luís Carneiro vai observando os helicópteros que, em baixo, em Carrazeda de Ansiães ou Ourém, procuram combater os vários focos de incêndio que levantam uma nuvem de fumo no horizonte.
A visão global fornecida por esta aeronave é uma das principais razões que fazem com que o P-3C Cup+ desempenhe um papel particularmente importante no dispositivo de combate aos incêndios: até terça-feira – período que se antevê como sendo o de maior risco –, a GNR já solicitou quatro missões de fiscalização à aeronave.
Fábio Silva, adjunto de comando da Força Especial de Proteção Civil, salientou a importância que o P-3C Cup+ tem no combate aos incêndios, designadamente devido à câmara térmica de que dispõe, que permite “fazer a destrinça, muitas vezes, em períodos de mais fumo e de alguma confusão”.
Em declarações à agência Lusa, Fábio Silva alertou para a existência, atualmente, de “vários indicadores que não são positivos” quanto à previsão de incêndios nas próximas semanas, e sublinhou que, devido às “condições meteorológicas” e à “acumulação de biomassa muito grande”, há situações em que “a eficiência dos combatentes está muito limitada”
“Há períodos em que não há capacidade de extinção, porque é um cenário extremamente difícil e humanamente impossível de fazer face. (…) E, portanto, é por isso que estas ferramentas e esta análise [são] tão importantes para prever qual é o momento e as ferramentas adequadas para intervencionar este tipo de incêndios”, realçou.