O Presidente da República alertou hoje que, nos próximos dias, se irá atingir “um pico” no risco de incêndios, com um “agravamento” a partir de terça-feira que pode durar entre três e quatro dias.
“Temos sobretudo, nos próximos dias, um pico, se quiserem, isto é uma situação muito mais grave do que a que corresponde à situação, já complicada, no período dito de verão”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República falava aos jornalistas na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, em Carnaxide, Oeiras (Lisboa), depois de participar na reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), em que também marcou presença o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e o secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino.
Marcelo afirmou que, dentro do pico dos próximos dias, é possível dividir o risco de incêndios “em duas fases”: uma entre hoje e segunda-feira, e outra a partir de terça-feira, que poderá durar “um número de dias variável, entre três e quatro”.
“Quando se fala em hoje e amanhã [segunda-feira], estamos numa situação que é grave, que pode dar a situação amanhã, porventura, de um aparente desagravamento, e que pode ser ilusório, no sentido de levar as pessoas a facilitar na sua reação, quando há dados que permitem apontar para um agravamento no dia seguinte”, advertiu.
O chefe de Estado referiu que, na fase que irá durar até segunda-feira, “ainda não há os ventos que se teme” virem a existir “com uma intensidade que não tem existido até agora” a partir de terça-feira.
Marcelo referiu ainda que “a mancha abrangida” pelos incêndios neste momento “é uma”, na segunda-feira “será mais ou menos a mesma, mas, em princípio, poderá aumentar de forma drástica” a partir de terça-feira, “cobrindo todo o território nacional, menos uma faixazinha no litoral norte”.
“Portanto, é isso que leva a dizer que possa haver a partir de dia 12, incluindo dia 12, não só um alargamento da extensão da área de risco, como dos fatores de risco (…) [com] elevadas temperaturas que podem subir então – nomeadamente as máximas – e a humidade baixa que pode agravar-se então, baixando essa humidade, [a] somar-se uma intensidade dos ventos não necessariamente verificáveis hoje e amanhã”, sublinhou.
O Presidente da República deixou assim um apelo: “É preciso neste momento, perante este pico, fazer tudo para que o saldo final, no termo destes dias, desta semana, seja um saldo que seja o mais positivo possível e não o mais negativo possível. É este esforço que temos todos que fazer”.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que foi precisamente por se testemunhar um agravamento do risco de incêndios a partir da próxima terça-feira que o primeiro-ministro decidiu cancelar a sua visita oficial a Moçambique – prevista para segunda e terça-feira – e que, ele próprio, cancelou a sua deslocação a Nova Iorque, que deveria ocorrer entre segunda e quinta-feira.
“Já imaginaram o que é que os portugueses pensariam, perante o risco de haver um agravamento não visível hoje ou amanhã, mas terça, quarta, quinta, quando o senhor primeiro-ministro (…) estava fora segunda, terça, chegava quarta à noite ou quinta, e eu tinha a minha intervenção nas Nações Unidas na quarta. (…) Diriam isto, ‘o país está louco’”, frisou.
Questionado se se coordenou com o primeiro-ministro quanto ao cancelamento das viagens em questão, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Pois claro que, naturalmente, o senhor primeiro-ministro e eu falámos sobre isso”.
O Presidente da República sublinhou ainda que é precisamente devido ao risco a partir de terça-feira que o Governo decidiu declarar a situação de contingência entre segunda e sexta-feira, o que permite reforçar “os meios, nomeadamente envolvendo o contributo municipal, e reforçar a capacidade de prevenção e resposta”.
Interrogado se, após a reunião do CCON, ficou mais tranquilo, Marcelo respondeu: “Saio mais tranquilo, porque já o senhor ministro e o senhor primeiro-ministro me tinham prevenido da situação grave”.
“Eu percebi porque é que era grave, podia pensar ‘isto é um exagero, é estar a prevenir em excesso’. Não, não é um exagero: há um risco efetivo e todas as entidades mostraram porque é que há, o que é que os satélites dizem, qual é a evolução das temperaturas, das humidades”, sublinhou.
O Presidente da República foi ainda questionado se, durante a reunião, foi discutida a possibilidade de a situação de contingência ser prolongada depois de sexta-feira, tendo respondido que, neste momento, se está “a lidar com este pico”.
“Também queria acrescentar o seguinte: isto não quer dizer que o risco de incêndio florestais desapareça no domingo que vem. É muito uma tendência nossa [dizer] ‘escapámos disto, ou não escapámos disto, mas o pior já passou, não temos mais’. Nós tivemos em 2017 a experiência que parecia que, depois de junho não havia mais, e houve em outubro”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa salientou, no entanto, que “para esta situação extrema ou máxima, recorre-se aos instrumentos máximos, à informação máxima e à sensibilização máxima dos portugueses”.