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Incêndios: Residentes das aldeias de Murça recordam momentos assustores

Os residentes das aldeias de Murça atingidas pelo fogo recordaram hoje momentos assustadores, em que se uniram para ajudarem a salvar vidas, casas e animais das chamas que pintaram de negro todo o norte do concelho.

“O fogo atingiu dimensões nunca vistas, com projeções por todo o lado, mesmo no interior da aldeia, em alguns casebres abandonados, havia ignições. Esteve bastante complicado”, afirmou João Teixeira, residente em Mascanho e coordenador técnico da Associação Florestal do Vale do Douro Norte (Aflodounorte).

Foi na sede da associação, uma antiga casa florestal, que a agência Lusa encontrou João Teixeira. Localizada no parque florestal de Mascanho, a casa ardeu por completo.

“Felizmente tivemos os bombeiros que estavam sempre por perto, mais os populares que não saímos. Em situações destas as pessoas que têm capacidade devem ficar para ajudar e foi isso que também salvou a aldeia”, salientou, referindo-se ao incêndio que deflagrou no domingo, em Cortinhas, e que na segunda-feira atingiu grandes dimensões.

Residentes mais idosos de Mascanho foram retirados por precaução para a vila de Murça, tendo já regressado. Pouco antes do meio-dia estavam também a regressar a casa 63 populares de Serapicos e Ribeirinha, que permaneciam no pavilhão desportivo, faltando ainda 12 de Parede e Salgueiro.

“Nas habitações não houve danos, só na agricultura que é o que se vê. Tudo completamente destruído”, apontou João Teixeira.

O mesmo não aconteceu à sede da Aflodounorte “apesar de tudo limpo recentemente à volta”. “Foi fogo de copas, estas árvores adultas estão completamente desidratadas e com o calor, certamente, atingiu aqui a casa e ardeu”, contou.

João Teixeira referiu que o “fogo chegou muito rapidamente”. “Em poucos minutos estávamos rodeados de fogo. Nestas situações, com estes declives, com esta vegetação e com este combustível, estes fogos são incontroláveis. Ou se combatem logo numa fase inicial ou então é impossível, mesmo espécies que são mais resistentes ao fogo, temos aqui um campo de carvalhal e está completamente consumido pelas chamas”, frisou.

Para além de uma extensa área de pinhal, o fogo consumiu oliveiras, castanheiros e colmeias.

Paulo Augusto é operador florestal da Aflodounorte e descreveu “um dia muito complicado” que se viveu na segunda-feira.

“Foi um dia bastante duro. Foi tentar proteger aquilo que é nosso, mas infelizmente não tivemos a capacidade de resposta para defender”, disse, referindo que a sua equipa estava na casa florestal no momento em que o fogo chegou.

Foi, contou, “uma coisa tão rápida” e “chamas, línguas de fogo, com mais de 40 metros de altura”.

“Só tivemos tempo de meter a manga em cima do carro e fugir”, frisou, acrescentando que, de seguida, foram para as aldeias ajudar.

“Andámos em Valongo de Milhais, em Serapicos, a tentar proteger as habitações, os bens essenciais e a população”, sublinhou.

Pelas aldeias ameaçadas por fogo, esta equipa de sapadores florestais foi abrindo as portas aos animais domésticos.

Paulo Augusto disse que em poucas horas viu destruir tudo o que passava o ano a proteger.

A estrada que desce à aldeia de Penabeice é estreita e íngreme. Foi a sair da aldeia que um casal de idosos morreu, depois do carro onde seguiam ter caído numa ravina. Foram encontrados já mortos e as causas do acidente estão a ser investigadas pela GNR.

A área onde o carro ainda permanecia esta manhã estava completamente queimada.

Em Jou, Basílio Garcia disse que o dia de segunda-feira “foi assustador”.

“Foi complicado, tentámos ajudar-nos uns aos outros, com mangueiras, com as águas das casas, não havia luz, para combater estes perigos todos que entraram pelas casas”, lembrou, referindo que foram muitas as ignições que se iam vendo pela aldeia.

Não ardeu nenhuma casa. “Tentámos fazer tudo por tudo para salvaguardar as casas, a vida das pessoas, que era o mais importante, e os animais também”, frisou.

“A aldeia estava completamente rodeada pelas chamas. Não se conseguia ver nada, não se conseguia ver num raio de 150 metros, estava mesmo um caos. Só mesmo quem estava cá no meio é que percebe como isto estava. Foi muito assustador. Até me estou a arrepiar porque foi mesmo completamente fora do normal”, afirmou Basílio Garcia.

Pelas 12:00, de acordo com informação disponível no ‘site’ da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), encontravam-se no terreno 697 operacionais, 10 meios aéreos e 241 meios terrestres.

 


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