O rendimento da atividade agrícola deverá decrescer 11,8% em 2022, segundo a estimativa das Contas Económicas da Agricultura para 2022, que aponta mais 30,5% de exportações de produtos agrícolas entre janeiro e outubro, revelou hoje o INE.
“Prevê-se que o rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano, registe um decréscimo acentuado (-11,8%), situação que não ocorria desde 2011”, destaca o Instituto Nacional de estatística (INE), na publicação hoje divulgada.
Para esta queda foi determinante o decréscimo de 10,7% do Valor Acrescentado Bruto (VAB), diz o instituto, lembrando que durante este ano persistiu, e até agravou, o diferencial positivo de crescimento entre os preços de produtos de consumo intermédio e os preços da produção.
O INE destaca que, por um lado, a atividade agrícola enfrentou dificuldades excecionais ao nível climático, registando o ano mais quente desde 1931, e por outro, em consequência do contexto internacional de guerra na Ucrânia, registaram-se “aumentos pronunciados” dos preços, especialmente os cereais, energia e outros produtos utilizados na atividade agrícola.
As exportações de produtos agrícolas, entre janeiro e outubro deste ano, aumentaram 30,5% face ao período homólogo anterior, enquanto as exportações totais de bens aumentaram 25,2%.
No mesmo período, as importações de produtos agrícolas aumentaram 32,2%, um acréscimo menos intenso do que o das importações totais de bens, 35,7%.
Quanto à produção agrícola, os dados do INE estimam que a produção de cereais diminua 12,9% em volume, destacando o decréscimo de 43,5% na cevada, e uma redução da produção de arroz de cerca de 15%.
Para os vegetais e produtos hortícolas, o instituto prevê uma diminuição de 4,2% da produção em volume, refletindo um aumento de 2,5% das plantas e flores e uma diminuição de 8,2% dos hortícolas frescos, destacando ainda o decréscimo de 15% no tomate para indústria.
O INE diz ainda que a área contratada entre os produtores e a indústria transformadora decresceu 4,5%, face à campanha anterior, e estima que o preço no produtor tenha aumentado 28,6%.
“No computo geral, os vegetais e produtos hortícolas apresentaram um acréscimo de preços de 14,2%”, informa, estimando que a produção de batata tenha decrescido 17,3% em volume, comparativamente a 2021, em consequência das altas temperaturas, que causaram uma quebra da produtividade. O instituto destaca ainda que os preços deverão ter aumentado 40,2%, refletindo a redução da produção e o aumento dos custos de produção.
No que respeita aos frutos, as estimativas apontam para um decréscimo de 6,6% em volume, principalmente devido à menor produção de maçã (-20%), pera (-45%) e pêssego (-20%), fruto que registou uma das piores campanhas dos últimos anos.
No sentido oposto, o INE estima uma produção de cereja próxima da alcançada na campanha anterior, a mais produtiva dos últimos 49 anos.
Contrariamente à generalidade da produção vegetal, os preços dos frutos deverão diminuir 2,1%.
Em relação ao vinho, as altas temperaturas e a falta de humidade em fases decisivas do ciclo vegetativo da vinha, prejudicaram a produção de uvas, que terá diminuído 15% em volume. No entanto, o INE antevê “vinhos bem estruturados, equilibrados” em álcool, acidez, açúcares e taninos.
As estimativas para a produção de azeite este ano (abrangendo parte das campanhas 2020/2021 e 2021/2022) apontam para um decréscimo em volume de 9,1%, em consequência da diminuição da produção de azeitona da campanha em curso (2021/2022).
“Note-se que na campanha anterior foi atingida a produtividade mais elevada dos últimos 30 anos”, destaca o instituto.
O INE adianta ainda que, em resultado da seca extrema, o olival tradicional, apesar de ser uma cultura predominantemente de sequeiro, revelou dificuldades no desenvolvimento dos frutos, originando a queda prematura da azeitona.
Já nos olivais intensivos, a colheita indicia quebras de produção menos acentuadas, segundo o INE.
Também a produção animal deverá registar um decréscimo em volume de 0,1% e um aumento dos preços de base de 23%, resultando num acréscimo nominal de 22,8%, para o qual contribuem fundamentalmente os bovinos (+15,4%), os suínos (+22,4%), os ovinos e caprinos (+9,8%), as aves (+29,4%) o leite (+22,5%) e os ovos (+66,3 %).