Luís Alcino da Conceição

InovTechAgro – Inovação, mas não só! – Luís Alcino da Conceição

No nova PAC no período pós 2020 e na recente Agenda para a Inovação do Ministério da Agricultura as competências nas áreas de agricultura de precisão, digitalização e mecanização assumem particular importância como instrumentos de inovação do setor agrícola. Este, como setor de atividade tem demonstrado ao longo do tempo uma importância vital e estruturante para o garante de segurança alimentar do país, de resiliência aos diferentes momentos de crise que atravessamos, bem como assume um importante papel na inclusão e desenvolvimento socioeconómico das regiões onde está presente e na conservação da paisagem, já que é o agricultor que durante todo o ano vive e mantém ordenado o território que lhe é adjacente.

São, contudo, inúmeros os desafios com os quais o agricultor se tem deparado ao longo dos tempos, de caracter intrínseco e extrínseco à sua natureza que importa ter em conta e que em grande medida comprometem a produtividade e a rentabilidade das culturas.

Como fatores intrínsecos, recordem-se as situações relacionadas com as peculiares características edafoclimáticas do nosso país, em que o clima Mediterrânico quente e seco de verão e frio e húmido de inverno que predomina em pelo menos 2/3 da Superfície Agrícola nacional praticamente reduz a um período de 2 meses as condições favoráveis de temperatura e humidade ao desenvolvimento das culturas; os solos que apresentam maioritariamente condições de baixa fertilidade resultantes de condições de pH baixo, baixo teor de matéria orgânica e frequentemente aliadas a deficientes condições de estrutura resultando em graves problemas de compactação e condições de drenagem.

Como fatores externos, fruto da tendência de crescimento da população mundial e da necessidade de racionalização de fatores de produção, o setor agrícola depara-se com a necessidade de intensificar de forma sustentável a produção de alimentos, enquanto tem de encontrar soluções mitigadoras face ao atual cenário de alterações climáticas.

Junta-se a este cenário o atual estado causado pela pandemia com a inerente perturbação das cadeias de produção e comercialização, e a estratégia da União Europeia Do Prado ao Prato, cujas metas que com esta surgem, da redução em 50% do uso de produtos fitofarmacêuticos e de fertilizantes, e a necessidade de diminuir a perda de nutrientes do solo, vão requerer uma atenção constante do agricultor na monitorização dos processos de produção e instrumentação capaz de assegurar informação necessária à toma da de decisão.

Mas, passando das ameaças às oportunidades, a resposta tem de passar definitivamente pela Inovação. A produção apenas de alimentos em massa, sem diferenciação não é geradora de valor nem para o agricultor, nem junto do consumidor. Importa por isso a aposta no conhecimento e na instrumentação na ótica da Agricultura 4.0, criando uma agricultura mais sustentável, amiga do ambiente, de maior valor acrescentado e mais segura para aqueles que nela trabalham. Nesta, assumem particular importância as tecnologias associadas à georreferenciação, automação de funções em máquinas agrícolas, telemetria, robótica, as tecnologias digitais sob domínio da IoT-Internet of Things, Big Data, Inteligência Artificial, e todas em conjunto associadas ao uso de plataformas digitais de gestão de exploração. Já hoje é conhecida a importância que a ‘Internet das Coisas’ e a recolha de dados pode ter na estratégia de gestão das explorações através da monitorização dos recursos, da saúde animal, no desenvolvimento das culturas, na utilização de máquinas e mão-de-obra. Complementarmente as tecnologias avançadas oferecem novas oportunidades para abordar as preocupações do consumidor sobre algumas práticas agrícolas e para dar garantia, de forma mais ampla, de que as suas expectativas podem ser atendidas de forma consistente e transparente.

Torna-se assim, necessário o reforço de políticas de diferenciação positiva no investimento em inovação tanto de infraestruturas físicas de ligação em rede e hubs regionais de dados como na atualização dos parques de máquinas antigos e obsoletos tornando-os mais versáteis tecnologicamente e compatíveis entre fabricantes; bem como o investimento em infraestruturas ligeiras como o machine learning ou inteligência artificial, acompanhadas de legislação transparente e focada nos dados. Mas outro fator a ter em conta na digitalização prende-se com a linguagem e a funcionalidade conferida ao agricultor de muitos dispositivos digitais e na relação entre o tempo investido e os resultados obtidos. Não é por acaso que o futebol é dos desportos do mundo que reúne maior número de adeptos…as regras são simples e conhecidas por todos! Assim tem de ser na Agricultura 4.0 e nas tecnologias a ela associadas.

Assim, o Centro Nacional de Competências para a Inovação Tecnológica do Sector Agroflorestal – InovTechAgro, congregando um fórum alargado de 65 entidades representantes das Organizações de Agricultores, Centros de Ensino e Investigação e Entidades Privadas, Administração Publica e Empresarial do Estado pretende ser de forma transversal às diferentes cadeias de produção, uma aposta na transferência de conhecimento e no desenvolvimento de competências em literacia digital que contribuam para a capacitação do agricultor, dos técnicos, dos operadores, e da sociedade civil no seu todo, ajudando-os a aos desafios que a transição digital nos vai impondo a todos.

Luis Alcino da Conceição

InovTechAgro

Professor Adjunto do Instituto Politécnico de Portalegre

InovTechAgro é constituído no próximo dia 16 de Setembro, em Oeiras

InovTechAgro visa promover um setor mais inteligente, seguro, moderno e sustentável

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InovTechAgro – Centro Nacional de Competências para a Inovação Tecnológica do Sector Agroflorestal

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