
Piscinas municipais, centros comerciais e até máquinas de venda automática. Nos últimos meses, multiplicaram-se os casos de cobras encontradas em plena cidade, longe dos habitats naturais onde habitualmente passam despercebidas. A situação levou o Notícias ao Minuto a questionar o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sobre as razões para a presença em espaços urbanos deste animal e sobre o que deve ser feito em caso de avistamento.
Segundo o ICNF, a existência de répteis nas cidades “não é uma novidade”, sendo antes consequência do fluxo contínuo de espécies entre zonas periurbanas e urbanas, sobretudo em áreas onde se têm promovido espaços verdes. De acordo com a mesma entidade, esta movimentação não se limita às serpentes, abrangendo também aves, invertebrados e outros animais.
Calor, reprodução e uma perceção de aumento
O que pode estar a acontecer, explica o instituto, é um fenómeno cíclico condicionado pelo clima. Em períodos de temperaturas mais favoráveis, há maior probabilidade de reprodução, o que leva a um aparente aumento da população. “Estes animais não conseguem regular a sua temperatura corporal, sendo diretamente influenciados pela temperatura ambiente”, esclarece o ICNF, sublinhando que este tipo de ocorrência tende a repetir-se em determinados ciclos.
Nem todas mordem, e quase nenhuma faz mal
Entre as espécies mais comuns em meios urbanos encontram-se a cobra-rateira, a cobra-de-escada e a cobra-de-ferradura. Embora a primeira seja tecnicamente venenosa, o risco para humanos é considerado nulo. Segundo o ICNF, os colmilhos de veneno situam-se na parte posterior da mandíbula e só libertam toxina durante o processo de ingestão da presa, não durante uma eventual mordedura defensiva.
Aliás, a grande maioria dos incidentes envolve uma reação de defesa por parte dos animais, que, de forma geral, “evitam a presença de pessoas e optam pela fuga”.
O que fazer (e o que evitar) ao encontrar uma cobra
O principal conselho é simples: não interferir. “Não se deve tentar agarrar, pisar ou encurralar o animal”, alerta o instituto. Ao ser deixado em paz, o réptil acabará por seguir caminho sem representar qualquer perigo.
Em caso de dúvida, ou se o animal estiver numa zona onde represente risco, como escolas ou espaços muito movimentados, o ideal será contactar os bombeiros locais, que têm recebido formação para lidar com este tipo de situações.
Natureza em casa: um equilíbrio delicado
As autoridades recordam ainda que as cidades, cada vez mais arborizadas e com zonas verdes, funcionam como ecossistemas onde é natural existir alguma diversidade biológica. E isso inclui também cobras, que ajudam a controlar populações de roedores e servem de alimento a outros animais, como aves de rapina.
“Não é desejável tornar os espaços urbanos estanques à natureza”, sublinha o ICNF. A chave, defendem, está na sensibilização e no conhecimento, e não no medo. Afinal, estes animais sempre estiveram por perto. Agora, estamos apenas a vê-los mais vezes.
Leia também: Este animal que estava ‘desaparecido’ há 500 anos voltou a Portugal e não é bem-vindo por este setor