Maaike Smits

Leite: Por uma distribuição justa na cadeia de valor – Maaike Smits

As matérias primas para alimentação animal têm sofrido aumentos consecutivos no último ano e as despesas acrescidas têm sido constantemente absorvidas pela base da cadeia de valor da fileira do leite, os produtores.

A produção não tem uma atualização de preços desde o início da pandemia. São os mesmos preços há 10 ou 20 anos.

Nós como produtores de leite estamos dependentes das cooperativas ou indústrias privadas para a recolha e a venda do leite e ficamos sujeitos ao preço que estas nos impõem. Será justo que com os custos sempre a aumentar, o preço ao produtor, na base de toda a cadeia, não aumente?

Algo está a falhar redondamente. Desculpas como “os consumidores não querem pagar mais pelo leite” ou “há muito leite no mercado” não convencem… Não convencem porque o leite pela Europa fora aumentou de preço. Na Holanda, a Friesland Campina, cujo preço é um valor guia para todo o velho continente, tem um preço para junho previsto de 38 cêntimos por kg. Então como é que o preço médio em Portugal persiste em se manter nos 30 cêntimos??? Se preços mais altos são praticados lá fora, como é que há assim tanto leite no mercado? Os preços do leite em pó também têm subido…

Volto a frisar, algo está a falhar redondamente.

O que falha e sempre falhou é a forma como o valor do leite é distribuído pela fileira. Como se controla se é de uma forma justa? A entidade reguladora sabe quanto custa produzir um litro de leite? As margens têm de ser controladas e tem de se procurar um sistema que garanta aos produtores que os seus custos sejam suprimidos e sejam feitos os investimentos na exploração para garantir o bem-estar dos animais, de quem trabalha com eles e dos serviços que dependem destas empresas. Não se esqueçam que existem consultores, vendedores, veterinários, eletricistas, canalizadores, pequenas lojas e oficinas locais que todos eles colaboram com estas empresas também dependem delas…

São milhares de famílias que têm o seu trabalho na produção de leite, mantêm campos limpos e fixam CO2 através das forragens que produzem para os seus animais, dão escoamento de diversos subprodutos da indústria alimentar e contribuem para o fornecimento de um alimento de elevado valor nutricional e fácil acesso aos portugueses satisfazendo as normas de bem-estar animal da União Europeia e as normas de Qualidade e Segurança Alimentar. Contribuímos para a autossuficiência alimentar e para a economia de Portugal.

Acho que são razões mais do que suficientes que seja despendido algum tempo em analisar porque é que o preço do leite em Portugal não acompanha os mercados Europeus e mundiais.

Precisamos principalmente de apoio negocial, precisamos de uma entidade que controle para onde vai o dinheiro da fileira e que o torne público, porque aos produtores não está a chegar!

Maaike Smits

Engenheira Zootécnica e Produtora de Leite


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