caso é “uma triangulação de conflitos de interesses entre a França, Marrocos e Israel”, afirmam os dois autores de “L’Affaire Ben Barka, La Fin des Secrets» (O Caso Ben Barca — O Fim dos Segredos), a ser lançado na quarta-feira pela editora Grasset, por ocasião do aniversário do sequestro (29 de outubro de 1965).
A investigação foi conduzida durante cinco anos pelos jornalistas Stephen Smith, especialista em África, e Ronen Bergman, do New York Times e autor de vários livros sobre os serviços secretos.
Ambos tiveram acesso a “arquivos confidenciais”, nomeadamente israelitas, para recriar hora a hora o desaparecimento e a morte de Mehdi Ben Barka e estabelecer a cadeia de responsabilidades.
“O número de intervenientes — protagonistas, coadjuvantes e figurantes que permanecem anónimos — rivaliza facilmente com o número de personagens em ‘Guerra e Paz’”, o romance épico de Leo Tolstoi.
Figura de proa do movimento anticolonialista, Mehdi Ben Barka, 45 anos, foi raptado a 29 de outubro de 1965 em frente à cervejaria Lipp, em Paris, antes de ser escondido e morrer afogado com a cabeça mergulhada numa banheira cheia, pormenorizam os autores.
O seu corpo nunca foi encontrado. Ben Barka teria sido enterrado numa floresta na região parisiense, indicam os autores com base em testemunhos.
Segundo Stephen Smith e Ronen Bergman, este crime foi realizado por ordem do rei Hassan II por agentes marroquinos ajudados por criminosos parisienses, com o apoio dos serviços secretos israelitas e a benevolência de altos responsáveis franceses, o que provocou a ira do então Presidente gaulês, o general Charles de Gaulle.
Um primeiro julgamento em 1967 já havia permitido estabelecer que o sequestro foi planeado pelos serviços secretos marroquinos com a cumplicidade de polícias e criminosos franceses. Mas o caso não foi totalmente esclarecido.
A investigação, considerada a mais antiga de França, ainda não está encerrada. Em julho, a juíza de instrução ouviu o filho do opositor, Bachir Ben Barka, que disse esperar “avanços” em breve.
Ben Barka foi um político marroquino que se exilou em Paris e cujo sequestro e presumível assassínio em outubro de 1965 causou uma crise política entre o Governo francês de Charles de Gaulle e levou ao corte de relações entre a França e Marrocos durante quase quatro anos.
Ben Barka, filho de um polícia marroquino, ensinou matemática antes de entrar na vida política. Juntou-se ao Partido Istiqlal, tornando-se presidente da Assembleia Consultiva Nacional, e em 1959 abandonou o partido para fundar a União Nacional das Forças Populares (UNFP), de orientação esquerdista.
Era amplamente considerado como um provável presidente de uma eventual República de Marrocos. Quando Marrocos e a Argélia travaram uma breve guerra em 1963, Ben Barka apoiou a Argélia e foi para o exílio.
Posteriormente, foi acusado de alta traição por um alegado complô contra o rei Hassan II e condenado à morte à revelia. Mudou-se para Paris, onde se tornou líder no exílio da oposição à monarquia marroquina.
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