A luta biológica contra a vespa das galhas do castanheiro está a ser reforçada este ano com a realização, em 89 concelhos, de 953 largadas dos parasitóides que eliminam a praga que afeta a produção da castanha.
José Gomes Laranjo, presidente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), com sede em Vila Real, disse hoje à agência Lusa que a luta biológica foi reforçada em 2021 depois de, em 2020, terem sido realizadas apenas cerca de 400 largadas devido à crise pandémica.
O também investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) referiu que o plano está a ser concretizado no âmbito do protocolo Biovespa e decorre entre os finais dos meses de abril e de maio.
A denominada luta biológica envolve a Refcast, produtores, autarquias e os serviços do Ministério da Agricultura, e está, neste momento, centrado nas comissões concelhias que apontam as necessidades e concretizam as largadas.
Serão, segundo o responsável, realizadas 953 largadas do parasitóides ‘Torymus sinensis’, insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa, em 85 concelhos do continente, essencialmente entre o Norte e o Centro, e quatro da Madeira.
José Gomes Laranjo lembrou que “este não é um problema de um produtor individual, mas de uma região, dado este tipo de praga e o tipo de tratamento que está a ser feito”.
A vespa das galhas do castanheiro está a assolar os soutos e ameaça a produção de castanha que é fonte de rendimento para muitas famílias. A sua dispersão já era esperada quando foi detetado o primeiro foco de infestação em território nacional, em 2014.
Desde 2016, no âmbito do Biovespa, foram realizadas 2.500 largadas em 104 concelhos.
O financiamento das largadas é feito pelos municípios que, segundo José Gomes Laranjo, até este ano, já investiram “perto de 800 mil euros”.
“Esta foi uma estratégia muito bem conseguida. De outra maneira não se afigurava fácil arranjar-se uma fonte de financiamento para conseguirmos responder, na hora certa, a toda esta necessidade de largadas”, salientou.
O especialista disse que a luta “feita no tempo certo” permitiu “a instalação do parasitóide em 81 concelhos do país”, de acordo com os dados recolhidos através de um processo de monitorização que terminou recentemente.
“Há um trabalho muito positivo de todo este trabalho”, frisou.
No entanto, ressalvou que, pela natureza deste processo de luta biológica, é preciso “ter paciência, aguardar e acreditar no trabalho que está a ser feito e que não é visível no imediato, mas que pode levar três, quatro, cinco anos a mostrar os seus efeitos”.
“A nossa preocupação, neste momento, é validar a presença do parasitóide em cada concelho e, a partir daqui, sabemos que ele está já num processo de crescimento em termos da sua população e, à medida que o parasitóide cresce, a praga vai diminuindo em termos da sua expressão”, afirmou.
José Gomes Laranjo adiantou ainda que o resultado das largadas “já começa a ser visível” e que o “cataclismo” temido pelos produtores, em relação a quebras de produção, “não foi detetado até hoje graças a este trabalho”.
O responsável fala apenas em “algumas quebras pontuais” em soutos de algumas regiões.
Neste momento, segundo o investigador, é possível fazer a georreferenciação das largadas através de uma aplicação de telemóvel que permite inserir imediatamente a informação, que fica disponível numa base de dados acessível através da página na Internet soscast.eu.
Aos produtores é também aconselhado não lavrar os soutos, não queimar a lenha de poda onde estão as galhas com os parasitóides e não aplicar inseticidas.