As principais organizações de produtores de cacau da Costa do Marfim, o maior produtor mundial, ameaçaram hoje boicotar as multinacionais de chocolate que se recusam a pagar uma taxa especial para melhorar a vida dos agricultores.
“Boicotaremos as atividades de todos os industriais que se oponham à DRD”, a sigla para ‘diferencial de rendimento decente’, que é um acréscimo de 400 dólares (330 euros) por tonelada de cacau ao preço de mercado, anunciaram num comunicado conjunto as quatro associações do setor, numa reunião em Yamoussoukro que contou com 500 delegados, segundo a agência de notícias francesa, a AFP.
“É uma questão de sobrevivência, nós estamos prontos para ir até ao fim, e podemos suspender a nossa produção de cacau durante um ou dois anos e mudar para outras culturas”, ameaçou o presidente da Associação Nacional das Cooperativas Agrícolas da Costa do Marfim (ANACACI), Soro Penatirgué.
O DRD foi negociado no ano passado entre as empresas multinacionais de transformação e venda de cacau, os principais grupos de chocolate e a Costa do Marfim e o Gana, os dois maiores produtores mundiais que, em conjunto, representam dois terços do mercado, com o objetivo de remunerar os agricultores destes países, que recebem apenas 6% do valor do mercado mundial de cacau e chocolate, e metade dos quais vive abaixo do limiar da pobreza, segundo a AFP.
No princípio desta semana a Costa do Marfim e o Gana lançaram uma ofensiva mediática conjunta inédita contra dois gigantes do chocolate americano, Hershey e Mars, acusando-os de se recusarem a pagar o DRD.
Os organismos públicos das indústrias do cacau nestes dois países emitiram comunicados nos quais anunciam a suspensão imediata de todos os programas de certificação da produção como “sustentável”, o que é um importante elemento diferenciador para a Hershey, nomeadamente nos mercados ocidentais.
Os dois países, que curiosamente realizaram eleições recentes (caso da Costa do Marfim) ou vão realizar este mês (Gana,) denunciaram uma “conspiração” das multinacionais para empobrecer os três milhões de agricultores que dependem desta indústria.
Segundo a AFP, a Hershey e a Mars protestaram contra o teor das críticas e insistiram que vão pagar o DRD e apoiar os pequenos agricultores.