Pisão

Mais de 30 mil árvores serão abatidas para dar lugar à Barragem do Pisão e a uma central solar

Barragem será feita numa zona onde o montado é predominante e a povoação que dá o nome à barragem ficará submersa para que sejam regados mais de cinco mil hectares de olival, vinha e amendoal.

O estudo sobre a construção da Barragem do Pisão é claro: vai ter impactos negativos significativos. Um dos principais será a destruição de vastas áreas de montado, com o abate de mais de três dezenas de milhares de sobreiros e azinheiras, a que acresce a afectação de sítios arqueológicos e a submersão da povoação que dá o nome ao empreendimento. Esta é uma aspiração antiga da região, onde a água que será armazenada dará alento às culturas intensivas que têm marcado a paisagem alentejana nos últimos anos.

O Despacho n.º 5581-A/2019, de 7 de Junho, não deixa dúvidas sobre as razões que justificam a construção da Barragem do Pisão: “(…) poderá garantir a possibilidade de introdução de novas culturas mediterrânicas adaptadas ao clima, aplicando as técnicas da rega de precisão, bem como a criação de novas agro-indústrias a partir das produções agrícolas e pecuárias”.

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) elaborado para o Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (AHFM) do Crato, em fase de consulta pública até ao próximo dia 11 de Agosto, prevê que a futura albufeira irá permitir regar uma área com 6850 hectares. Outros documentos consultados pelo PÚBLICO admitem que possa chegar aos 10.000 hectares, distribuída em blocos de rega nos concelhos de Alter do Chão, Avis, Crato e Fronteira.

Para além do regadio, outros objectivos “estratégicos” estão previstos no projecto hidroagrícola: o fornecimento de água a 110.000 pessoas dos municípios de Alter do Chão, Avis, Crato, Fronteira, Gavião, Nisa, Ponte de Sor e Sousel e ao subsistema do Caia que abastece Arronches, Elvas, Campo Maior e Monforte; e produção de energia eléctrica, com a instalação de duas centrais fotovoltaicas, uma em terra e outra flutuante. Os painéis em terra irão ocupar uma área de cerca de 316 hectares, que produzirão uma potência instalada de 140 MW, e os painéis flutuantes irão ocupar uma área de cerca de dez hectares e uma potência instalada de 10 MW.

A barragem e a sua albufeira “vão ocupar áreas arborizadas, com montados” de sobreiros e azinheiras, destaca o EIA, assinalando os “impactes significativos na paisagem, uma vez que esta deixará de ter um carácter tão natural, passando a estar artificializada”. Com efeito, os usos do solo estão, “em grande parte”, ocupados por sistemas agro-florestais tradicionais.

Montado muito afectado

A zona de implantação da barragem e da sua albufeira (com 725 hectares de área inundada) é sobretudo composta por montado de sobro e azinho.

Nos dados inseridos no EIA é apresentada a quantificação, em hectares, da área de povoamentos florestais que serão afectados pelas várias infra-estruturas do AHFM do Crato: cerca de “43 hectares de azinheiras, 537 hectares de montado e 19 hectares de povoamento de quercíneas, para além de 228 árvores isoladas”. Partindo de uma estimativa de 50 árvores por hectare em média, em zonas densamente povoadas, serão abatidos perto de 30 mil exemplares de sobreiro e azinheira, a que acrescem perto de mil quercíneas.

Conforme determina a legislação […]

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