m grupo de ativistas protestou hoje à entrada da COP30 em representação “dos defensores do clima e dos indígenas”, mas também contra as 121 mortes da operação mais letal da história do Rio de Janeiro.
À entrada do pavilhão principal da 30.ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), que se realiza na cidade amazónica brasileira de Belém, uma dezena de pessoas deitaram-se no chão cobertos com lençóis brancos e tinta vermelha, fazendo lembrar uma imagem que “correu mundo” há duas semanas quando dezenas de corpos foram estendidos numa estrada do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, mortos durante a mega operação policial contra o Comando Vermelho.
Ao redor da placa oficial que dá as boas vindas aos milhares de participantes que entravam no recinto, os restantes ativistas da Caravana Mesoamericana gritavam: “defender a vida custa a vida”.
“Estamos fazendo referência ao massacre que houve no Rio de Janeiro e é uma forma de nós também representarmos a vulnerabilidade dos defensores do território e defensores do clima, que são as primeiras pessoas a desaparecer na Mesoamérica, no México, na Colômbia”, disse à Lusa Dani Cantarey, porta-voz da organização ambiental Deuda x Clima.
Dani Cantarey é uma das 50 pessoas que integra Caravana Mesoamericana, que partiu do México a 04 de outubro, passando por vários países da América Central, para denunciar a violência e a perseguição contra ambientalistas.
A caravana iniciou o percurso na comunidade de Pótam, em território yaqui, no México, e, depois de passar pela Guatemala, El Salvador e Honduras, foi impedida de entrar na Nicarágua, obrigando os participantes a seguir viagem por via aérea para continuar pela Costa Rica, Panamá e Brasil.
Pedem a anulação imediata, total e incondicional da dívida externa do Sul Global.
“Só assim acabamos com o neocolonialismo nos países que eles [os ricos] chamam, de forma errada, em desenvolvimento. Só assim se pode alcançar uma verdadeira autodeterminação sem esta dívida que apenas precariza as mesmas comunidades que têm de pôr os corpos, as horas de trabalho, a força laboral, para transformar todos os bens naturais em dinheiro que acaba por ser usado para pagar essas dívidas”, denunciou à Lusa.
Para além disso, o grupo de 50 ativistas composto por várias organizações ambientais e de direitos humanos também querem o fim do modelo extrativo, agroindustrial e militarizado, financiado pelos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, que acusam de alimentar a crise climática e ainda o fim da violência contra quem defende os territórios.
Sob o lema “Defender a vida custa a vida”, vários manifestantes aproximaram-se da Lusa para afirmar que não acreditam que as negociações oficiais da COP30 tragam mudanças reais.
“Uma fantochada”, resumiu um dos ativistas à Lusa.
Representantes de cerca de 170 países participam a partir de hoje na COP30, sendo a primeira vez que a conferência climática se realiza na maior floresta tropical do planeta, um ecossistema vital para a regulação da temperatura global, mas também um dos mais ameaçados pela desflorestação e pela mineração ilegal.
As negociações prolongar-se-ão até ao dia 21 de novembro, com possibilidade de se estenderem por mais alguns dias, em Belém, cuja preparação para esta COP30 foi marcada por graves problemas logísticos e pelos preços exorbitantes dos hotéis, que limitaram a estrutura das delegações presentes.
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