O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que a limpeza da floresta é um “problema sério” e implica um “debate nacional”, que tem de ser “prático” e não “ideológico”.
“É um debate nacional a fazer que não pode ser ideológico. Por um lado, estão os que são mais a favor da intervenção dos poderes públicos, outros mais respeitadores da propriedade privada. Tem de se ser muito prático em encontrar uma solução em que estejam todos de acordo e que funcione. Se se vai debater muito tempo, na prática, ninguém limpa”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Numa visita a Penabeice, aldeia onde morreu um casal na sequência do incêndio que deflagrou em julho, o chefe de Estado salientou que a limpeza da floresta é um “problema sério”.
“Não são só as autarquias que têm de limpar, são aqueles que têm a ver com a terra, e logo aí temos uma dificuldade enorme porque sabemos como vivem a nível de subsistência. Mal se aguentam com o que tiram da terra, como é que vão pagar a limpeza da floresta?”, questionou Marcelo, defendendo que este é um “problema sério” e que se “repete todos os anos”.
Ao recordar uma conversa que teve com dois pastores a caminho da aldeia, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu ser preciso “pensar bem o que é que pode e deve ser a floresta”.
“Pode demorar mais tempo, aparentemente ser menos rentável, ser diferente, mas é trabalhar para o futuro imediato e gerações futuras”, disse, salientando que o país tem de ter “outra floresta”.
Aos presentes, o chefe de Estado salientou ainda que uma das lições a retirar dos incêndios é a necessidade de, nos pontos críticos do território nacional, “avaliar bem o risco”, tentando montar os dispositivos de combate que “permitam acorrer mais rapidamente”.
“Isto é um esforço enorme que a Proteção Civil tem pela frente que é definir, olhando para o que ardeu nos últimos anos, o que está para arder, o que tem probabilidade de arder de forma mais grave (…) e distribuir os meios em função disso, para na medida do possível poderem acorrer”, disse.
Além das populações e das autarquias, Marcelo Rebelo de Sousa disse ser fundamental a prevenção dos dispositivos de combate.
“Se a previsão for de que no ano de 2023 ainda há uma forte probabilidade de fogos florestais significativos, então não podemos facilitar, quer dizer que tem de ser um dispositivo reforçado e ver onde se deve apostar”, acrescentou.
Outra das lições a retirar, afirmou o Presidente da República, é a importância da descentralização, a qual considerou “fundamental”, ainda que demore algum tempo.
“Muitas vezes há uma parte de Portugal que porque conhece menos bem aquilo que se passa noutras partes de Portugal, estou a falar apenas do continente, não tem a sensibilidade para perceber porque é que é importante descentralizar, porque é que é importante criar condições para o desenvolvimento de áreas que de outra maneira ficam envelhecidas, ficam sem população”, afirmou.
Acompanhado pelo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o Presidente da República esteve com alguns idosos residentes em Penabeice, tendo revelado que combinou, com o presidente da Câmara de Murça, visitar “secretamente” a região durante o incêndio, mas que acabou por não o fazer.
O fogo que deflagrou em julho, em Murça, terá consumido mais de 10.000 hectares em três concelhos do distrito de Vila Real, nomeadamente em Murça, Vila Pouca de Aguiar e Valpaços, para onde se estendeu, revelou, na altura, o presidente de Murça, Mário Artur Lopes.
“Mais de metade do concelho de Murça foi atingido por este incêndio”, afirmou o autarca.
Foi a sair da aldeia que um casal, com 69 e 72 anos, morreu, depois do carro onde seguia ter caído numa ravina.
Foram encontrados já mortos numa área queimada pelo incêndio.