Um dos responsáveis pela administração da Cerfundão, associação de fruticultores com sede no Fundão, afirmou hoje que, até ao momento, “não há qualquer medida de apoio efetiva aos agricultores” afetados pelas intempéries de maio.
“Até agora, não há qualquer medida de apoio efetiva aos agricultores. Absolutamente nenhuma medida de apoio. Esperamos que com esta reunião da Comissão de Agricultura rapidamente o Governo coloque na mesa as ações que pretende e que considere prementes para poder apoiar os agricultores e fruticultores afetados por esta situação. Até este momento, não há qualquer tipo de apoio, nem sabemos sequer que tipo de apoio é que vamos ter”, afirmou Paulo Ribeiro.
Este responsável da Cerfundão esteve hoje presente na Comissão de Agricultura, numa audição, a requerimento do Grupo Parlamentar do PS, que juntou várias associações de produtores, fruticultores e agricultores e cujo tema em agenda foi o impacto das intempéries na região Norte e Centro.
“A comissão reuniu no sentido de aferir daquilo que realmente se passou, não só na Cova da Beira, mas um pouco por todo o interior do país, porque isto é uma situação que afeta na totalidade 29 concelhos e trouxe prejuízos nunca vistos às fileiras da fruta do olival e da vinha”, explicou.
Paulo Ribeiro realça que “a situação é muito complicada”, sobretudo para os pequenos produtores que estão confrontados com “uma situação de perda extremamente elevada de produções”.
“Na cereja estamos a falar de perdas de 80%. Isto leva a uma perda de rendimento dos produtores que coloca em causa a continuidade dessas culturas”, sustentou.
O responsável da Cerfundão frisou que se há pessoas resilientes e com capacidade de sofrimento são os agricultores e fruticultores.
“Habituámo-nos desde muito cedo a estar praticamente sozinhos e foi o que disse na comissão. Mas, face a toda a situação e à envolvente social que vivemos neste momento, de facto, ou há apoios da parte do Estado ou vamos assistir a muitos casos de abandono de culturas na região [Cova da Beira] e nas regiões afetadas”, sublinhou.
Já sobre os apoios solicitados, disse que, basicamente, há um pedido de apoio em termos de linha de crédito bonificada para os agricultores mais afetados pelas intempéries.
Adiantou ainda que há do lado do Plano de Desenvolvimento Rural (PDR) um pedido para que sejam criadas linhas especificas para as culturas das diversas regiões que permitam investir em métodos de produção mais eficazes às intempéries e que permitam, em termos de quadro comunitário, que esses investimentos sejam vistos como uma mais-valia.
À Lusa, o Ministério da Agricultura informou, por escrito, que continua a trabalhar no conjunto de medidas apresentadas este mês ao setor e aos autarcas, medidas essas que correspondem também ao solicitado, quer pelos produtores quer pelos autarcas em reunião com a ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque.
No dia 23, a governante anunciou que as regiões do Baixo Douro e Cova da Beira, afetadas pelas intempéries de maio, registaram prejuízos globais de 20 milhões de euros, montante igual ao dos créditos disponibilizados.
“Esperamos dentro de dias ter uma resposta efetiva, [através] de uma linha de crédito no montante de 20 milhões de euros, porque foi isso que nos pediu o setor. Na zona do Baixo Douro, estamos a falar de prejuízos, excluindo o que foi coberto pelos seguros, de oito milhões de euros, e, na Cova da Beira, de 12 milhões de euros”, indicou Maria do Céu Albuquerque, em resposta ao Bloco de Esquerda (BE), numa audição parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar.
O Ministério da Agricultura referiu ainda que o executivo vai também prestar apoio para fazer face aos custos relativos aos tratamentos de pomares e vinhas, “mediante protocolos a celebrar com os municípios que se manifestem interessados”.
Adicionalmente, está a ser avaliada a possibilidade de abertura de uma medida, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020, para reduzir ou prevenir o impacto de catástrofes naturais ou fenómenos climáticos adversos, através da instalação de equipamentos de prevenção como redes de granizo.
Em causa está uma tempestade de chuva, granizo e vento, que atingiu, em maio, sobretudo o Fundão, a Covilhã, Belmonte e Penamacor, no distrito de Castelo Branco, que dizimaram as culturas de primavera/verão deste ano, nomeadamente os pomares (cereja, pêssego, pereira, macieira, ameixeira, damasqueiro, figueiras) olival, vinha e hortas.