A granizo já afetou cerca de 2.200 hectares de vinha principalmente nos concelhos de Armamar, Lamego, Peso da Régua e Vila Real, segundo estimativas da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).
A primeira ocorrência de queda de granizo, chuva intensa e trovoada aconteceu a 31 de maio, afetando principalmente o concelho de Vila Real.
Novos episódios de mau tempo aconteceram na sexta-feira e no domingo, atingindo também os concelhos de Peso da Régua, de Armamar e Lamego, todos inseridos na Região Demarcada do Douro.
Carla Alves, diretora regional de Agricultura e Pescas do Norte, disse à agência Lusa que, até hoje, as estimativas apontam para que tenham sido afetados 2.200 hectares de vinha nestes quatro concelhos.
Em relação à produção de maçã, também uma cultura muito afetada pela intempérie, a responsável aponta para “prejuízos em cerca de 1.200 hectares de macieiras”, principalmente em Armamar, mas também em Lamego.
No Douro, os produtores de vinho continuam com os olhos postos no céu e preocupados com a “lotaria” do tempo. As previsões apontam ainda para trovoadas e queda de granizo durante a semana.
Na União de Freguesias de Galafura e Covelinhas, no Peso da Régua, o granizo caiu com mais intensidade no domingo.
“Nunca vi cair tanta pedra e tanta chuva na mesma altura. Foi mesmo de lavar, foi mesmo de estragar. Os prejuízos são muito grandes”, afirmou o presidente daquela junta, Eduardo Ermida.
Neste território de pequenos e médios produtores e onde a vinha é a principal atividade económica, “todos se queixam que têm zonas em que ficaram simplesmente com a videira e a vara porque, de resto, a vindima já está feita”.
“Mesmo que levem os produtos, os cachos das uvas acabam por apodrecer e cair ao chão. Já não contando com aqueles que foram cortados pela pedra e caíram”, explicou.
Para além das vinhas, acrescem os estragos nos caminhos e com as quedas de muros.
Francisco Paiva, responsável agrícola na empresa Coimbra de Matos, contabiliza prejuízos em cerca de 20 dos 60 hectares de vinha da quinta, principalmente nas zonas de Guiães e Galafura. Neste momento faz-se o tratamento das videiras, aplicando o cálcio que ajuda na cicatrização da videira.
“Que podemos fazer mais? É esperar e ver”, lamentou, apontando, também, o “elevado custo” dos tratamentos que estão a ser feitos.
E este estava, sublinhou, a ser um bom ano para a vinha, com boa nascença de cachos e poucas doenças.
Augusto Aires nem quis voltar à vinha de três hectares depois da tempestade de domingo e fala de uma “calamidade” que se abateu sobre os agricultores.
“Tinha uma enxertia de dois anos e o granizo desfez tudo. Não dá para recuperar nada lá”, lamentou, com a voz embargada.
Sem seguro de colheita, diz que este “ano é para esquecer” e pede uma ajuda financeira para ajudar a mitigar os prejuízos e recomeçar. “Um empurrão”, frisou.
A diretora da DRAPN, Carla Alves, referiu que, na cultura da maçã, “cerca de 80 a 90% dos agricultores têm seguro de colheitas”.
Por outro lado, no caso da vinha, “só cerca de 15 a 20% dos agricultores têm seguro”.
“Essa questão é que é preocupante. O Ministério da Agricultura nas últimas três campanhas pagou 46 milhões de euros de prémios, que estamos a comparticipar, e, por isso mesmo, é preciso fazer um esforço grande no sentido de incentivar os agricultores ao seguro de colheita”, salientou.
O autarca da Galafura, Eduardo Ermida, referiu que, “infelizmente, muitas pessoas não têm seguros” e especificou que os agricultores “já estão sobrecarregados de tantos seguros, desde os tratores, carrinhas, casas”.