Medidas para travar a seca em Portugal são “paliativas”

Há anos que a seca assombra o território português e a realidade é só uma: continuará a acontecer e serão mais prolongadas e intensas. Para a combater, há que pensar com tempo e não agir de forma “reactiva”, dizem os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO. Os desperdícios são muitos e há que saber gerir a água, nunca esquecendo que se trata de um bem escasso.

As imagens já corriam e assustavam. O pior confirmou-se quando o Governo decidiu suspender a produção de energia hidroeléctrica em algumas barragens do país. Sem chuva e com pouca água nessas barragens, Portugal voltou a encarar um problema que não é de agora – e que continuará a ser um problema no futuro: a seca. Mas estas medidas, diz a geógrafa Maria José Roxo, são “paliativas”. “Aquilo que nós sempre fazemos e parece que não aprendemos nada com o passado é termos atitudes reactivas. Estamos sempre a correr atrás do prejuízo”, comenta, em conversa com o PÚBLICO.

“As secas têm vindo a ser tratadas muitas vezes como se tratou o terramoto de 1755, como se fosse uma coisa esporádica que não acontece mais”, compara também o engenheiro Joaquim Poças Martins, especialista em hidráulica. Concorda com a suspensão da actividade hidroeléctrica para garantir água para consumo humano, mas acredita que é necessário olhar para a escassez de água de forma diferente. “Vêm aí mais secas, mais severas e mais prolongadas. Essa é a única certeza que temos, portanto temos de nos adaptar a isso”, vaticina o antigo secretário de Estado do Ambiente.

A parte menos má desta falta de água – e que pode fazer com que não olhemos para as notícias com a gravidade que deveríamos olhar – é que “esta seca não chega à torneira das pessoas”, analisa Poças Martins. Mas já atinge os agricultores e a produção eléctrica.

A principal prioridade do Governo agora é precisamente garantir que “não falta água nas torneiras dos portugueses”, tem dito o ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes. Mesmo que não chovesse nos próximos dois anos – “algo impensável”, diz –, haveria garantia de água para consumo humano durante esse período.

Depois de ter apresentado uma série de medidas para combater a seca em 2018, o ministro afirmou que foi feito um investimento de 500 milhões de euros na renovação dos sistemas de abastecimento de água para diminuir as perdas nas condutas e que tem de haver “práticas agrícolas consentâneas com a disponibilidade de água”. Certo, diz, é que “não podemos contar com a água que não temos”. O que mais pode, então, ser feito?

Não há uma solução – há muitas

A estratégia de Portugal para combater a seca e a falta de água é sempre reactiva, critica a professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa, Maria José Roxo, especialista em seca e desertificação. É por aí que se tem de começar: pensar com tempo, “falar antes de as coisas acontecerem” e haver preparação para as evitar, com uma “visão integrada”. Mas “não há uma só solução – há muitas”.

Que medidas poderiam ser tomadas em concreto? Maria José Roxo começa por elencar “medidas mais estruturais”: limpar as barragens, rever sistemas de distribuição de água que estão danificados, “muitos deles no perímetro do Alqueva”, aumentar a capacidade de armazenamento de água, pensar numa agricultura de irrigação mais eficiente na utilização de água.

“Sabemos que os desperdícios são muitos e vamos ser realistas: vamos ter de começar a dizer as coisas tal como elas são, custe o que custar”. Há também que avaliar quais as barragens do país mais assoreadas, com mais materiais depositados, e retirar sedimentos, avaliando o uso do solo e a quantidade de materiais causados por incêndios que […]

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