[Fonte: Observador] Estão a abrir as primeiras lojas da retalhista campeã espanhola. Setor diz-se tranquilo, mas o nervosismo é grande – e não caiu bem a receção por Marcelo, com honras de Estado, ao fundador da empresa.
Quase três anos depois do primeiro anúncio, a líder absoluta entre as cadeias de supermercados em Espanha – a Mercadona – chega no início da semana a Portugal, um lançamento que está a deixar o setor retalhista “num estado de grande ansiedade”, disse ao Observador um experiente gestor na área do retalho. Um estado de ansiedade que ajuda a perceber, por exemplo, porque é que as empresas nacionais, há várias décadas instaladas no país, acharam muito pouca graça ao facto de o presidente e fundador da Mercadona, Juan Roig, ter sido recebido com honras de Estado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Apesar de serem abertas apenas 10 lojas (até ao final de 2019), para já limitadas ao norte do país, este é um investimento que foi preparado com precisão cirúrgica, por um “gigante” com bolsos profundos que a última coisa que quer é que a sua primeira “aventura” internacional corra mal: por isso, a empresa garante que o investimento inicial em Portugal ronda os 160 milhões de euros – sem ter aberto, ainda, uma única loja. Para singrar no nosso país, o investimento será “aquele que for necessário”, atirou Juan Roig em março. O plano, no horizonte previsível, será abrir entre 150 e 200 lojas em todo o país.O investimento inicial em Portugal ronda os 160 milhões de euros – sem ter aberto, ainda, uma única loja. Para singrar no nosso país, o investimento será “aquele que for necessário”, atirou Juan Roig em março. O plano, no horizonte previsível, será abrir entre 150 e 200 lojas em todo o país.
A Mercadona tem mais de 25% do mercado espanhol, o que é o mesmo que dizer que mais de um em cada quatro euros que os espanhóis gastam em supermercados vai para a faturação da empresa de Juan Roig. Os franceses do Carrefour estão em segundo lugar, mas têm uma quota de apenas um dígito. Em Espanha mas não só – em Portugal, também – a empresa já atingiu um estatuto de culto em alguns segmentos – por exemplo, o caso dos produtos de higiene e cuidado pessoal de marca própria, que geram autênticas excursões de centenas de quilómetros em busca de shampoos, cremes ou maquilhagem (há mesmo quem lá vá de propósito comprar mais de 30 embalagens de uma só vez) – ou até de queijo e presunto – “porque o espanhol é 5 estrelas”.
Oficialmente, as principais empresas do mercado português – que é dominado pelas marcas da Sonae, como o Continente e Pingo Doce, e da Jerónimo Martins – passam uma mensagem de tranquilidade, como não podia deixar de ser. Aos analistas do mercado de capitais, que seguem a evolução das empresas e das ações na bolsa, a mensagem que é passada é de um “grande respeito” pelo novo concorrente e, ao mesmo tempo, que, pelo menos para já, não há razões para uma grande preocupação. Afinal de contas, “são apenas 10 lojas”, para já, que comparam com as quase 450 lojas do Pingo Doce e as mais de 700 da Sonae MC.
Essa é a ideia transmitida a quem se dedica a recomendar a compra ou a venda das ações das empresas.