O míldio é a principal doença da cultura da vinha, gerando elevados prejuízos na produção vitivinícola a nível mundial. Sabe-se muito sobre a biologia do fungo que a origina (Plasmopara viticola) e sobre a forma como se reproduz e afeta a videira, mas a história da origem e da propagação mundial da doença é pouco conhecida.
A verdadeira história do míldio
Um estudo, publicado no passado mês de Março na revista científica “Current Biology” por investigadores franceses e holandeses, trás nova luz sobre a doença e a sua propagação pelo mundo. Os cientistas descobriram que a primeira contaminação das videiras europeias ocorreu há 150 anos, a partir de uma única estirpe de míldio que infeta as videiras silvestres (Vitis aestivalis). A introdução do fungo na Europa deu-se quando viticultores franceses a braços com graves problemas de oídio e filoxera, importaram videiras silvestres da América com o objetivo de usar genes de resistência destas em videiras cultivadas. No século XIX, o comércio internacional de híbridos e porta-enxertos resistentes à filoxera (Cabernet, Merlot, Chardonnay, Syrah, etc.) a partir de França terá desencadeado a disseminação do míldio por várias regiões do mundo, afirmam os autores do estudo.
Uma vez mais a história vem dar razão à importância da atual legislação europeia que impõe estritas normas à entrada e circulação de material vegetal na UE, com vista a evitar a propagação de pragas e doenças, entre as quais estirpes de míldio até agora inexistentes em território europeu.
O ciclo biológico do míldio e a regra dos três 10
O fungo causador do míldio – Plasmopara vitícola – é caracterizado como um endoparasita, ou seja, desenvolve-se no interior das folhas da videira. Passa o Inverno nos tecidos das folhas mortas caídas no solo, sob a forma de ovos de Inverno ou oósporos, é o designado “míldio mosaico”. No início da Primavera os oósporos quando amadurecem germinam, desde que as condições de humidade (92 a 100%) e temperatura (entre 11ºC e 32ºC) sejam favoráveis. Esta germinação dá lugar aos macronídios que no seu interior contêm numerosos esporos dotados de cílios- os zoósporos. Estes esporos são projetados para os jovens órgãos verdes e molhados da videira, fixam-se aos estomas e daí ramificam para o interior das células provocando infeções primárias.
Para que as infeções primárias ocorram é necessário que ocorram três condições fundamentais: temperatura superior a 10ºC; precipitação acima de 10 milímetros; e pâmpanos com mais de 10 centímetros. É a designada “regra dos três 10”.
A penetração do fungo nos tecidos verdes é invisível a olho nu, é a chamada fase de incubação do fungo, cuja duração varia em função da temperatura. Posteriormente, aparecem na página inferior das folhas ou sobre os restantes órgãos verdes as frutificações ou conidióforos, que têm na extremidade os conídios visíveis sob a forma de manchas esbranquiçadas e na página superior da folha sob a forma de mancha de óleo de aspeto translúcido. Em ataques intensos verifica-se o dessecamento e queda das folhas. Estes conidióforos emitem os conídios que se encarregam de propagar a doença na mesma videira ou em videiras vizinhas, dando lugar às infeções secundárias, a designada fase de invasão. No final do Verão aparecem pequenas manchas necrosadas entre as nervuras das folhas – “míldio mosaico”. Nas inflorescências e cachos surge um bolor branco com posterior coloração acastanhada – “rot gris”. Nos bagos aparecem manchas acastanhadas com a forma de dedadas que comprimem o bago – “rot brun”.
Estratégia de proteção
O míldio provoca a diminuição da capacidade fotossintética da videira com posterior implicação na qualidade das uvas, levando à diminuição ou perda total de produção, se o ataque aos cachos for intenso.
Para evitar a propagação da doença deverá adotar-se uma estratégia essencialmente preventiva e proceder a tratamentos fitossanitários sempre que se verifiquem condições para o desenvolvimento da doença, sobretudo se no ano anterior se verificou o aparecimento do míldio mosaico, que determina a quantidade de inóculo. A frequência e o número de tratamentos serão determinados pelas condições climáticas e pelas características dos fungicidas usados. É aconselhável seguir as recomendações dos Avisos Agrícolas em cada região e, a nível de medidas culturais, é importante promover um bom arejamento da sebe, bem como uma boa drenagem do solo.
A Syngenta recomenda a aplicação de Ridomil Gold Combi Pepite na fase de plena floração da vinha. Este fungicida sistémico e de contacto possui efeito preventivo, curativo e anti-esporulante e está formulado com a inovadora formulação pepite, que proporciona maior segurança para o aplicador e para o meio ambiente, maior facilidade de utilização e máxima eficiência das substâncias ativas.
https://youtu.be/70Vi0oxRArM
Nas fases desde os cachos visíveis até ao pinto, recomenda-se o uso de Ampexio, uma nova geração fungicida. Integra uma combinação sinérgica de duas substâncias ativas, a mandipropamida e a zoxamida, que têm forte interação positiva no controlo dos oomicetas, potenciadas pela formulação WG, que proporciona também uma utilização fácil e segura.
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Referências
- “Europe as a bridgehead in the worldwide invasion history of grapevine downy mildew, Plasmopara vitícola”, Revista “Current Biology”, 25 Março 2021
- “Campo de demonstração de proteção integrada em vinha- Ciclo do míldio”, DRAP Beira Litoral
- “Fitopalogia da Vinha”, Syngenta
O artigo foi publicado originalmente em Alimentar com inovação.