A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, garantiu hoje estar “atenta” a eventuais movimentos de especulação no setor do leite, vincando que a implementação da iniciativa ‘Observatório de Preços’ vai assegurar “justiça a toda a cadeia”.
“Estamos muito atentos, e não queremos que ninguém fique para trás. É preciso um preço justo para todos e que o rendimento e os custos sejam distribuídos de igual modo na cadeia, em função da realidade de cada um dos elementos da mesma”, disse a governante.
A titular da pasta da Agricultura e Alimentação, que hoje, na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, participou num almoço de Natal organizado pela Agros, uma união de cooperativas de produtores de leite com grande implementação na região de Norte, assegurou que o ‘Observatório de Preços’ está já a reunir dados sobre o setor.
“Fomos buscar o bom exemplo de Espanha, que nos permite acompanhar toda construção e formulação de preços para perceber se não há movimentos especulativos nem ganhos desmesurados de um dos elementos da cadeia, em detrimento de outros, que, eventualmente, sejam prejuízos”, explicou.
Questionada se já foi detetado algum desses movimentos especulativos, uma vez que as associações de produtores queixam-se que os preços pagos pela indústria ainda são baixos, mas os consumidores têm sentido um aumento no valor do produto, Maria do Céu Antunes revelou que “ainda não há essa informação”.
“O Observatório [de preços] ainda está numa fase embrionária, recolhendo as informações, mas num futuro muito próximo, com o modelo implementado, vamos ter a possibilidade verificar isso. Uma eventual especulação será acompanhada pela ASAE, que é quem, do ponto de vista económico, faz esse controlo”, explicou a governante.
A ministra da Agricultura quer para o setor do leite “um sistema robusto” com “uma distribuição justa dos custos e rendimentos, para viabilizar o setor agrícola e ter um preço justo para o consumidor”, lembrando que os produtores tiveram, em outubro, um aumento de 14 cêntimos por litro de leite, em relação ao mesmo período de 2021.
A governante lembrou, ainda, uma série de medidas tomadas pelo executivo no apoio ao setor, nomeadamente uma verba de 13,5 milhões de euros para mitigar o aumento dos custos de produção, um desconto suplementar de 10 cêntimos no gasóleo colorido, e ainda apoios para a secagem do milho e para projetos de aumento de produção de derivados do leite, como queijos e iogurtes.
“Queremos implementar medidas que vão ao encontro das ambições de todos, vir ao terreno é muito importante para percebermos como podemos ajudar. Este é um setor muito importante para o nosso país, que tem sido confrontado com várias crises, mas o Governo está disponível para apoiar a mitigar esses efeitos”, assegurou Maria do Céu Antunes.
Já Idalino Leão, presidente da Agros, disse ter “acolhido com agrado” a iniciativa ‘Observatório de Preços’, esperando que a mesma “seja ágil nas suas análises, propostas, e eventuais correções na cadeia”.
“Achamos que é preciso um equilíbrio para todos na cadeia e no negócio, uma palavra que não devemos ter medo de dizer. O que aconteceu em 2022 foi uma correção inevitável na cadeia de valor, a produção não estava a conseguir gerar liquidez para se tornar viável”, disse o dirigente.
O líder da Agros indicou que “até agosto deste ano um litro de leite custava mais 50% a produzir do que em 2021”, e que, apesar da indústria ter subido 20% o preço pago aos produtores, nas prateleiras [do comércio] só tinha subido 10 cêntimos”.
“Toda a cadeia estava desregulada. Um litro de leite, que alimenta uma família de quatro pessoas, era, em agosto, mais barato que um café. Não era viável para um setor que nos últimos três anos já vinha de crises”, concluiu Idalino Leão.