Missão Biomass

Missão Biomass vai mapear floresta e biomassa a partir do espaço

A Agência Espacial Europeia (ESA) vai utilizar um novo satélite de Observação da Terra que permite medir, pela primeira vez, a biomassa das florestas mundiais. O satélite da Missão Biomass vai observar, durante cinco anos, oito ciclos de crescimento das florestas do mundo, para conhecer a sua estrutura e fazer um censo da biomassa global.

Daqui a um ano (em agosto de 2023), a Missão Biomass deverá começar a receber as primeiras medições da biomassa florestal feitas, pela primeira vez, por um Radar de Abertura Sintética.

Até agora, os sensores óticos apenas permitiam um mapeamento da cobertura florestal (copas), mas pela primeira vez, as medições da biomassa serão feitas através de um Radar de Abertura Sintética (RAS) que consegue recolher informação para além das copas das árvores, dando a conhecer a estrutura da floresta.

A inovação torna-se possível porque o radar da Missão Biomass usa um sinal eletromagnético na banda P, de ondas mais longas (neste caso, de 70 centímetros), que atravessam nuvens e todas as camadas de vegetação, permitindo recolher informação que anteriormente não era alcançável a partir do espaço.

Desta informação que poderá ficar acessível graças à Missão Biomass poder-se-á deduzir a biomassa das florestas tropicais, temperadas e boreais, dados nunca antes obtidos e que vão resultar num mapa tridimensional das florestas com uma resolução de 200 metros/pixel. A informação é enviada por um amplificador de radiofrequência e captada através de um refletor de 12 metros de diâmetro pelo satélite (na imagem).

A biomassa medida – incluindo tronco, casca, ramos e folhas das árvores – ajuda a compreender a que ritmo se degradam os habitats e de que forma esta perda impacta a biodiversidade florestal, bem como a capacidade de sequestro de carbono, permitindo aperfeiçoar o conhecimento atual sobre o estado das florestas e a sua evolução. Com estes dados será possível melhorar a gestão de recursos e serviços florestais.

A Missão Biomass possibilitará também mapear a subsuperfície geológica de desertos, analisar a estrutura de mantos de gelo e a topografia dos solos florestais. Somada a estas metas, merece referência uma outra: ao medir-se a biomassa das regiões desérticas, espera-se encontrar água subterrânea selada por formações rochosas em aquíferos subterrâneos (chamada água fóssil) e outras fontes de água em regiões áridas.

Refira-se que o conhecimento da biomassa florestal suportará a implementação da iniciativa REDD+ das Nações Unidas, nascida na Conferência das Partes para reduzir as emissões provenientes da desflorestação e da degradação florestal, mais preocupante em países em desenvolvimento.

 

Missão Biomass: colaboração para além das fronteiras europeias

Pela sua magnitude, este é mais do que um projeto europeu. Como afirma o gestor do projeto Biomass da ESA, Michael Fehringer, “A construção do satélite envolve mais de 50 equipas industriais de toda a Europa e um grande fornecedor dos Estados Unidos. A plataforma do satélite, exceto o radar, está presentemente a ser montada na Airbus, em Stevenage, Reino Unido.” Fehringer refere ainda que o satélite já foi ligado, pela primeira vez.

Também a cargo da inglesa Airbus Defense and Space, uma divisão do grupo Airbus, a antena implantável de 12 metros virá da fábrica de Friedrichshafen, na Alemanha. Quanto a outros componentes, o sistema de alimentação de matriz para a antena será produzido em Itália e França pelo Thales Alenia Space e todos os dispositivos para a montagem da estrutura do satélite, incluindo equipamentos de transporte vertical, montagem e desmontagem dos painéis do satélite e montagem e desmontagem do Radar de Abertura Sintética (RAS) serão feitos pela empresa espanhola SENER.

A Missão Biomass integra o Programa Planeta Vivo da ESA e será a sétima Missão exploratória da Agência. Anunciada em maio de 2013, tendo vindo a ser adiada desde 2020, em parte devido aos condicionamentos da pandemia, estando agora o lançamento marcado para agosto de 2023. O satélite, com 20 metros de comprimento, pesa cerca de 1,2 toneladas e fará as medições a uma distância de 660 quilómetros da Terra. Será lançado a partir de um foguete Vega, da base espacial em Kourou, na Guiana Francesa.

A importância da biomassa

Conhecer a biomassa florestal, um recurso sustentável composto por matéria orgânica de origem vegetal, é um parâmetro fundamental para se estimar o sequestro de carbono global das florestas mundiais. A madeira é constituída por cerca de 50% de carbono, sendo que a forma mais habitual de estimar o sequestro pelas plantas é considerar que 50% da biomassa vegetal seca é carbono.

Esta capacidade de retirar carbono da atmosfera tem um papel fundamental na regulação do clima, já que a perda e degradação das florestas promove a libertação de dióxido de carbono para a atmosfera, aumentando o efeito de estufa.

A biomassa vegetal tem origem na fotossíntese: o carbono é fixado da atmosfera através da radiação solar, transformando-se em tecidos vegetais. “Podemos considerar a biomassa como energia solar aprisionada”, explica a Direção-geral de Energia e Geologia no seu site. Na fotossíntese, a energia do sol é utilizada pelas plantas na conversão da água, CO2 e nutrientes em oxigénio e açúcares (por sua vez formados por carbono, oxigénio e hidrogénio).

Só em Portugal, as florestas absorveram 10,4 megatoneladas de gases com efeito de estufa em 2019, contribuindo para um stock que significa menos carbono na atmosfera.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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