A União Africana aprovou um apoio de 1,8 milhões de dólares (1,5 milhões de euros) para mitigar os efeitos do ‘El Niño’ junto de 18 mil moçambicanos, após avaliação feita pela agência especializada ARC, conforme informação do Governo.
De acordo com um documento detalhando a execução orçamental de Moçambique no primeiro semestre, enviado hoje à Lusa, o apoio resulta da análise feita pela Capacidade Africana de Risco (ARC, na sigla em inglês), agência da União Africana, que apurou o valor, através de uma apólice de seguro paramétrico contra a seca para a época chuvosa 2024/25.
Foi apurado, em abril de 2025, “um pagamento (payout) na ordem de 1,8 milhões de dólares, que vai permitir assistir a cerca de 18 mil agregados familiares nas regiões mais afetadas pela seca”, lê-se no documento, explicando que Moçambique “continua a ressentir-se dos impactos do fenómeno ‘El Niño’, que tem maior incidência nas zonas sul e centro do país, provocando situações de insegurança alimentar”.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre anualmente entre outubro e abril.
“Por outro lado, o impacto dos choques climáticos, com destaque para os ciclones tropicais Dikeledi e Jude, ocorridos em janeiro e março do ano em curso, causaram enormes prejuízos nas infraestruturas económicas e sociais”, reconhece o Governo, no mesmo documento.
Acrescenta que só estes dois ciclones provocaram a morte de 171 pessoas, sobretudo no norte do país, em “desabamento de paredes, afogamentos, descargas atmosféricas e cólera”, além de 248 feridos e um total de 1.372.441 pessoas afetadas, correspondendo a 310.956 famílias.
Segundo os dados do Governo, foram ainda afetadas 317.460 casas, “das quais 158.135 foram parcialmente destruídas, 146.538 totalmente destruídas e 12.787 inundadas”, mas também “destruídas 3.188 salas de aula, afetando 373.472 alunos”, bem como 142 unidades sanitárias, 588 casas de culto, 13.489 postes de energia e 119 torres de comunicação, entre “outros prejuízos socioeconómicos”.
Refere igualmente que os eventos extremos afetaram, desde janeiro, igualmente, o setor de estradas numa extensão de 6.991 quilómetros, danificando 814 quilómetros, 23 pontes, 10 pontões e 63 aquedutos.
Na agricultura, foram afetados 1.200.000 hectares de culturas diversas, dos quais 429.317 hectares por inundações e os restantes pelos efeitos da seca e pragas, “prejudicando cerca de 202.028 produtores”, enquanto nas pescas 212 embarcações artesanais foram afetadas.
A Electricidade de Moçambique (EDM) estimou recentemente prejuízos de quase 115 milhões de meticais (1,6 milhões de euros) só com as consequências da passagem do ciclone Jude pelo norte do país, em março.
Só entre dezembro e março últimos, na última época ciclónica, Moçambique foi atingido por três ciclones, incluindo o Chido, o primeiro e mais grave, no final de 2024.
O número de ciclones que atingem o país “vem aumentando na última década”, bem como a intensidade dos ventos, alerta-se no relatório do Estado do Clima em Moçambique 2024, do Instituto de Meteorologia de Moçambique(Inam), divulgado em março.
O Inam refere no documento que, apesar de o relatório fazer referência a 2024, realizou uma análise “por décadas de ciclones tropicais que atingiram Moçambique”, nas épocas ciclónicas (novembro a abril) de 1981/1982 à atual, de 2024/2025.