corpo de um homem foi encontrado, em agosto de 2021, na margem do rio Mondego, na Figueira da Foz. A vítima era um emigrante português no Luxemburgo, de 40 anos.
O que inicialmente se pensava ter tratado de um afogamento viria a concluir-se que se tratava de um criem. Marco tornou-se no alvo de uma conspiração familiar, liderada pela sua companheira, sogra, namorado da sogra e o seu enteado.
A morte, que está a ser julgada no Luxemburgo, poderá ter sido causada com o objetivo de receber o seu seguro de saúde. Mas houve algo que falhou.
Como Marco conheceu a mulher que o matou
Marco e Rosa eram dois emigrantes no Luxemburgo. A mulher, natural da Figueira da Foz, tinha saído de uma relação quando decidiu rumar ao Luxemburgo, com um filho nos braços. Aí, encontrou-se com a mãe, com quem ainda viveu durante alguns meses, antes de encontrar uma casa. O filho, mais tarde, acabou por ficar aos cuidados da avó, mulher com quem foi criado, revela o Contacto.
Já Marco, que nasceu no Luxemburgo filho de pais emigrantes, terá regressado a Portugal ainda pequeno, tendo anos depois decidido voltar ao país, onde tinha a sua irmã.
Marco e Rosa conheceram-se de forma espontânea e a atração foi imediata. A mulher estava grávida na altura, da sua filha mais nova, sendo que nunca ninguém soube quem era o pai da criança.
Isso não impediu Marco de acolher esta criança como se fosse sua e começar a namorar com Rosa. Quem os conhece diz que a relação nunca foi um mar de rosas, marcada com muitas discussões, mas que à sua maneira se entendiam. Os dois viviam juntos e faziam vida de marido e mulher, embora nunca se tenham casado.
Chegada de novo membro destabiliza relação
A relação do casal passou a viver momentos mais conturbado com a chegada à família de um novo membro: tratava-se do novo namorado da mãe de Rosa. Maria Clara começou uma relação com João, homem 10 ano mais novo que ela, pese embora este nunca tenha sido bem aceite pela família.
Em 2019, contudo, Rosa submeteu-se a uma cirurgia para perder peso, altura em que, segundo o meio local Contacto, João começou a olhar para ela de forma diferente. Os dois começaram uma relação extraconjugal, às escondias de todos.
É nesta altura que a relação de Rosa e Marco começa a piorar. “Discutiam por tudo e por nada, a toda a hora. Muitas discussões, mas mesmo muitas”, recorda uma amiga do ex-casal, referindo que o homem se tornou a vítima da relação e no único alvo de uma conspiração, que foi surgindo em conversas “banais”, até se tornar num plano para lhe tirar a vida, a 4 de agosto.
Afogamento ou crime?
Um dia depois, um corpo foi encontrado a boiar nas margens do rio Mondego, em Portugal. Tudo aquilo que indicava ter sido um afogamento, viria a provar-se ser algo muito mais complexo.
A autópsia viria a provar que o homem tinha sido envenenado. A par disso, ferimentos que apresentava no joelho levavam a crer que este tinha sido arrastado.
A Polícia Judiciária começou a suspeitar de um crime e em contacto as autoridades luxemburguesas, viria a deter em março do ano seguinte os quatro suspeitos do crime: Rosa, Maria Clara, João e o filho mais velho de Rosa.
Quando Rosa foi detida rapidamente assumiu o que tinha feito, colocando porém as culpas na sua mãe, a quem acusava de a tentar manipular e controlar. Uma análise as mensagens trocadas entre os suspeitos viria a revelar que o crime tinha começado a ser planeado depois de um vizinho de Esch se ter suicidado com pesticidas.
Marco comprou o veneno que o ia matar
Antes de ser atirado ao rio Mondego, Marco sobreviveu a uma primeira tentativa de homicídio, sem nunca o ter sabido. Ainda no Luxemburgo a mulher tentou envenená-lo. Na altura, este estava a fazer obras num telhado, e Rosa acreditava que depois de beber vinho envenenado este se sentiria mal, cairia do telhado e iria morrer. Mas não foi assim. Marco sentiu-se mal, mas acabou por ficar bem sem que nada de grave lhe tivesse acontecido.
Foi então numa vinda de férias a Portugal que o crime se tornaria real. Sem saber no que se estava a meter, Marco ligou a uma prima, dona de uma loja agrícola, para saber se esta lhe podia vender veneno para a barata da batata. Marco não tinha licença para adquirir este tipo de produto, mas à boa maneira portuguesa, a prima acabou pro lhe vender o produto por ser uma pessoa da sua confiança.
Nessa mesma noite, começava o plano. João foi quem ofereceu a bebida envenenada a Marco. Rosa e Maria Clara foram quem levaram o seu corpo para as margens do rio e o atiraram à agua.
Nos dias que se seguiram, Rosa alegava que o companheiro a tinha abandonado para ir atrás de uma antiga namorada.
Os motivos do crime
Segundo o jornal luxemburguês, na origem do crime estaria um seguro de vida que Marco tinha, no valor de vários milhares de euros. Rosa e a família contavam receber esse valor após a morte do homem, contudo Rosa esqueceu-se de um pormenor: ela e Marco não eram casados.
Assim, quando a mulher foi tentar levantar o valor do seguro soube que não tinha direito a nada. Conseguiu ainda levantar 7 mil euros com os cartões bancários do falecido, ato que se juntou à lista de provas contra si própria.
Detenção acontece meses depois. Julgamento é agora
Em março do ano seguinte, foram então detidas quatro pessoas: “a mulher do defunto (45 anos), a mãe da esposa (64 anos), o marido da última (54 anos), assim como um filho de um primeiro casamento da esposa da vítima (25 anos)”.
Rosa, Maria Clara e João estão sob prisão preventiva desde o dia em que foram detidos no Luxemburgo. Marco António ficou a aguardar julgamento em liberdade, mas sob supervisão judicial.
A filha mais nova de Rosa, hoje com 10 anos, está sob a guarda de uma amiga.
O caso está a ser julgado no Luxemburgo, pese embora tenha sido cometido em Portugal. Segundo as autoridades judiciais daquele país, isto acontece dado que o crime foi organizado em solo luxemburguês, onde residem todos os suspeitos.
O julgamento começou na semana passa e prossegue na próxima.
Leia Também: Ana Abrunhosa promete “valorizar as margens do Mondego” em Coimbra
