Rui Gonçalves

Mudar o que tem de ser mudado – Rui Gonçalves

As perdas em vidas humanas resultantes dos incêndios de 2017 alteraram profundamente a atitude dos agentes envolvidos no combate aos incêndios florestais, agora classificados como incêndios rurais.

A FlorestGal, Empresa de Gestão e Desenvolvimento Florestal, SA, gere atualmente perto de 15.000 ha de terrenos agroflorestais distribuídos por 90 propriedades, localizadas entre Valença e Monchique.

Até ao dia 6 de agosto não se registava qualquer área ardida nos terrenos da FlorestGal. O grande incêndio no Parque da Serra da Estrela levou à ativação do sistema de defesa contra incêndios da empresa (operado pela Afocelca) na Unidade de Gestão (UG) de Famalicão da Serra, concelho da Guarda. Na primeira fase do incêndio foi possível manter a integridade da UG. Contudo, o excesso de confiança do dispositivo montado pela Proteção Civil prejudicou a contenção dos reacendimentos ocorridos no Vale da Amoreira (a cerca de 2 km de distância) no dia 15, inviabilizando a preservação da totalidade da área. De um total de 555 ha, acabaram por arder cerca de 150. Numa primeira avaliação, as perdas incorridas estimam-se em 1.100.000 euros. Note-se que a FlorestGal teve um volume de negócios em 2021 próximo de 1,2 milhões de euros.

Este acontecimento traumático já nos permitiu extrair algumas lições que achamos dever partilhar com todos os que se preocupam com a floresta, com os valores naturais e com o nosso território.

1. A prevenção estrutural é inútil

Segundo o ICNF, as ações de prevenção estrutural realizadas no Parque da Serra da Estrela, desde 2018, incluem 2324 ha de rede primária de faixas de gestão de combustível, 771 ha de rede secundária, 177 ha de áreas de pastorícia, 1463 ha de fogo controlado e queimadas e 411 km de caminhos e rede divisional florestais. Estes números não incluem os trabalhos realizados pelas autarquias, gestores de infraestruturas e entidades privadas.

Apesar do esforço de investimento que estas ações acarretaram, elas parecem ter sido completamente ignoradas pelo dispositivo de combate ao incêndio. Não só se continuaram a ouvir críticas à falta de prevenção, como nem as faixas de gestão de combustível, nem os caminhos e estradões foram devidamente aproveitados nas ações de combate.

Este exemplo pode ter efeitos nefastos ao desmotivar os agentes (particularmente os privados) responsáveis pelas medidas de prevenção e silvicultura preventiva.

A cada vez mais […]

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