O ano de 2022 começou como nos anunciava o fim de 2021: com uma brutal escalada de preços dos factores de produção (combustíveis, electricidade, rações, sementes, adubos, fitofármacos), sem o devido acompanhamento dos preços pagos na produção. Assim, e tendo em conta o acumular de prejuízos que se vem a verificar ao longo dos anos, é expectável o agravamento da situação de fragilidade, sobrevivência e manutenção das pequenas e médias explorações agrícolas, tal como também nos dificulta a vida a escassez de serviços públicos em qualidade e quantidade nas nossas aldeias e vilas.
Para agravar a falta de liquidez, as alterações climáticas anunciam grandes mudanças… agora é a seca e a escassez de água, no futuro o que virá? Os pastos começam a secar, os lameiros (norte) já sentem a escassez, e os reservatórios de água (poços, charcas, etc.) não são suficientes. Esta situação tem desencadeado maiores consumos: nas rações e concentrados para a pecuária ou energéticos para a rega (ex. bombeamento de água). Na pecuária, as produtoras começam a desfazer-se dos animais (inclusive dos animais reprodutores) para diminuir o efectivo e, assim, os custos com a alimentação. Na produção vegetal, as culturas permanentes são as que ainda se safam, mas podem estar bastante comprometidas, tanto na quantidade de produção, na qualidade (ex. calibre), como na vitalidade das culturas.
As dificuldades que se vivem no sector precisam de respostas urgentes por parte do Governo, nomeadamente no combate à especulação e à escalada dos preços dos factores de produção, no escoamento da nossa produção agrícola e florestal a preços justos, com a concretização plena do Estatuto da Agricultura Familiar que inclua a valorização do papel das mulheres agricultoras.
São muitas as razões que nos levam a participar e apelamos a que todas e todos se juntem à Acção de Protesto promovida pela CNA e filiadas, em Braga, a 24 de Março, às 11h, por ocasião da abertura da Feira AGRO.
A situação difícil do sector agrícola, com tendência para o agravamento da nossa Soberania Alimentar, aprofundar-se-á num futuro muito próximo, pela situação de conflito no Leste da Europa. No que respeita à cultura do milho, o nosso grau de auto-provisionamento é de 23,7% (INE, 20221), sendo que, por exemplo, a Ucrânia é o nosso maior fornecedor de milho (cerca de 41% do que importamos).
Não somos alheias ao terror da guerra e dos conflitos entre os Povos, onde quem mais sofre são invariavelmente os mais frágeis, em especial as mulheres, as crianças e todos os camponeses que vêm os seus campos destruídos.
Apelamos ao fim imediato do conflito!
Apelamos às negociações pela via diplomática!
Apelamos à Paz no Leste na Europa e em todas as zonas de conflito no Mundo!
São estas as razões que nos levaram a participar na Manifestação Nacional de Mulheres, no Porto a 5 de Março, e Lisboa, a 12 de Março, convocada pelo Movimento Democrático de Mulheres.
O 8 de Março é um dia histórico e símbolo da luta emancipadora das mulheres que celebramos com um profundo sentimento de solidariedade com todas as mulheres que lutam contra as consequências da pandemia nas suas vidas, contra as desigualdades, discriminações e violências, pela igualdade, pelo progresso e pela Paz.
Semeando soberania e solidariedade alimentar, colhemos direitos e uma vida digna!