
Entre laranjais e figueiras, há um fruto que resiste discretamente ao olhar apressado de quem passa pelas bancas dos mercados do Algarve. Com aspeto modesto, raramente chama a atenção de quem procura os sabores mais óbvios da estação. Ainda assim, é nos meses de outono que ganha expressão nos pomares do sul, sobretudo em terrenos familiares e produções de pequena escala.
Agora, começa a despertar o interesse da comunidade científica. Estudos recentes destacam a sua riqueza em compostos bioativos, com impacto reconhecido na prevenção de doenças crónicas e na promoção do bem-estar. Num tempo em que se valorizam alimentos funcionais, locais e sazonais, este fruto típico do Algarve surge como uma resposta surpreendente, e acessível.
Um aliado da saúde escondido à vista de todos
De acordo com o National Center for Biotechnology Information (NCBI), esta fruta é particularmente rica em flavonoides, taninos, carotenoides e compostos fenólicos. Juntos, estes elementos contribuem para combater o stress oxidativo, reduzir a inflamação e fortalecer o sistema imunitário. A sua composição inclui ainda fibra alimentar em quantidade significativa, o que a torna útil na regulação da digestão e no controlo da glicemia.
O fruto em causa é o dióspiro e está longe de ser uma novidade para os agricultores do Algarve. Produzido de forma tradicional na região, sobretudo em pomares familiares, é por vezes ignorado nas grandes superfícies, mas continua presente nos mercados locais e nas mesas que valorizam o que é da terra.
Coração, intestinos e imunidade: tudo num só fruto
O consumo regular de dióspiro pode ter efeitos positivos na saúde cardiovascular. Os flavonoides presentes na sua polpa ajudam a prevenir a formação de placas nas artérias e promovem uma circulação sanguínea mais equilibrada. A fibra, por sua vez, contribui para uma digestão eficiente e para a sensação de saciedade.
Explica a Direção-Geral da Saúde que as frutas ricas em fibra devem fazer parte da alimentação diária, sobretudo no outono, quando o organismo procura naturalmente mais conforto e equilíbrio nutricional. Neste contexto, o dióspiro encaixa de forma exemplar: é nutritivo, suave para o estômago e naturalmente doce.
Comer com moderação, mas sem medo
Apesar dos seus benefícios, o dióspiro deve ser consumido com moderação por pessoas com diabetes, especialmente nas variedades mais maduras. Ainda assim, segundo o El Confidencial, o seu perfil nutricional justifica a presença regular na dieta, desde que inserido num plano alimentar equilibrado.
Estudos continuam a investigar o potencial do dióspiro na prevenção da diabetes tipo 2, na proteção celular e no reforço do sistema imunitário. As conclusões preliminares são encorajadoras, sobretudo no que toca à sua ação antioxidante.
Muito além da sobremesa
Com uma textura cremosa e um sabor doce, o dióspiro é tradicionalmente consumido ao natural, à colher. No entanto, pode também ser utilizado em compotas, bolos, saladas ou como acompanhamento de pratos salgados. A sua versatilidade tem vindo a ser redescoberta por chefs e amantes da cozinha sazonal.
Num artigo recente, o La Vanguardia destaca esta tendência crescente: redescobrir alimentos locais, muitas vezes esquecidos, como soluções eficazes e sustentáveis para melhorar a alimentação do dia-a-dia.
Um gesto simples com impacto duradouro
Valorizar o dióspiro é também valorizar a agricultura portuguesa, os saberes locais e a produção sustentável. Escolher frutas da época é uma forma de apoiar os produtores, reduzir o desperdício e cuidar da saúde com o que a terra oferece.
Neste outono, ao olhar para os frutos menos populares das bancas, pode estar a dar um passo discreto mas importante para viver com mais energia, vitalidade e sabor. Porque a saúde não vem só dos suplementos nem das dietas da moda: às vezes, começa com um fruto maduro, colhido no momento certo.
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