Nem tudo são rosas – Ricardo Brito Paes

Alertar e colocar o dedo na ferida, no que toca à Instalação de Jovens Agricultores em Portugal, tal como a AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal tem vindo a fazer nos últimos tempos publicamente e não apenas nos seus fóruns internos, não é de forma nenhuma redutora nem desencorajadora, pelo contrário.

A AJAP tem 30 anos de história e muitos Jovens Agricultores instalados, felizmente com uma taxa de sucesso bastante elevada. Compete-nos a nós, em última instância, fazer este trabalho de alerta, pois caso contrário, não ficaríamos de consciência tranquila. Temos sido, inúmeras vezes, balões de oxigénio para muitos Jovens que já desesperados vêm ter connosco, infelizmente nem sempre temos solução!

O Jovem Agricultor tem que estar consciente do passo que está a dar e se, por si só, a agricultura é uma actividade de extrema especificidade e complexidade, todos os meandros de um processo de Instalação com apoios financeiros estatais e da EU, passa a assumir contornos extremamente burocráticos e de grande responsabilidade para o Proponente. Daí, os manifestos e preocupações da AJAP, para que possa haver por parte do Ministério um maior controlo sobre os Projectistas, tal como já existe para a elaboração de candidaturas PU, SNIRA, SAA, entre outras.

É fundamental “balizar” este processo, porque em última instância quem fica penalizado com o mau desempenho do Projectista é o Jovem. Têm chegado à AJAP, nas últimas semanas, vários casos de Jovens Agricultores que estão no limiar do 2º Pedido de Pagamento do Prémio de Instalação (oito mil euros), e que para o mesmo ser efectuado o Jovem tem que apresentar uma taxa de execução na ordem dos 80% do Plano Empresarial, sob pena de terem que devolver verbas já recebidas anteriormente.

São situações como esta, de extrema delicadeza e de grande complexidade, que a AJAP tenta antever, daí o nosso “realismo” face aos números gordos que têm vindo a público.

Neste novo Quadro Comunitário de Apoio 14/20 em preparação, as Organizações de Produtores vão ter um grande destaque, congratulamo-nos com essa medida, pois sem parcerias e aproveitamento de sinergias, sem um verdadeiro espírito de “equipa”, o que hoje não é fácil, amanhã será praticamente impossível.

Se com as gerações passadas nem sempre foi possível estabelecer este tipo de ligações, gostaríamos de “impor” esta cultura às novas, já em actividade e às que estão para chegar, vamos deixar de ver o vizinho como um concorrente mas como um parceiro estratégico, para que as nossas explorações ganhem escala de mercado e se tornem mais competitivas. Basta olharmos para os sectores de maior sucesso (ex: frutas e hortícolas, vinho, azeite…), grande parte deve-se seguramente a uma boa organização.

No entanto este “casamento” não tem que existir só entre Produtores, é verdade que é o mais importante, mas as Associações, Cooperativas e todas as Organizações que existem pelo país, têm um papel preponderante neste processo, também elas devem ser aliadas e verdadeiras colaboradoras dos seus Produtores, e não meras prestadoras de serviços, têm além desse papel comercial, que começar a ter mais crédito junto dos seus associados ou cooperantes.

Nesta matéria a AJAP tem-se pautado por fazer um trabalho de grande proximidade junto dos seus Agricultores, mantendo Gabinetes abertos, com Técnicos experientes nas principais zonas agrícolas do nosso país.

Em tempos que não são fáceis, os sacrifícios têm sido elevados, mas estamos certos que este é o caminho e que mais tarde iremos colher os frutos. Contudo, não deixamos de ter a humildade suficiente para admitir que muito ainda está por fazer e que teremos ainda muito a melhorar, porém na certeza que os nossos Agricultores nos vêem como parceiros e que esta parceria terá seguramente um futuro risonho.

Ricardo Brito Paes
Presidente da AJAP – Associação dos Jovens Agricultores de Portugal

Dia do Agricultor é Dia do Jovem Agricultor – Ricardo Brito Paes


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