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Noz portuguesa em expansão na última década

A noz portuguesa tem despertado interesse crescente, com a área de cultura e a quantidade produzida a ampliar-se na última década. Apesar da expansão, as mais de 7,5 mil toneladas de noz colhidas em 2021 estão longe de responder à procura nacional, que também tem vindo a aumentar.
30 de novembro 2022

As nozes são o terceiro fruto de casca rija mais importante no nosso país. A sua valorização, embora longe da registada pela amêndoa e castanha, é crescente, o que está bem patente no aumento das áreas plantadas e nas quantidades de produção de noz portuguesa.

Na última década (2012-2021), a área de produção aumentou cerca de 92%, dos cerca de 2,7 mil hectares para os 5,6 mil hectares. A cultura ampliou-se consecutivamente ano após ano, com o principal impulso a acontecer de 2018 para 2019, quando os nogueirais portugueses se expandiram de 3,8 para 5,4 mil hectares (mais de 39% de área).

A produção de noz portuguesa também cresceu significativamente: cerca de 79% nos últimos dez anos, passando de 4216 em 2012 para 7542 toneladas (com casca) em 2021. Ainda assim, o percurso não foi sempre ascendente. Entre as flutuações registadas, salientam-se uma subida, queda e recuperação acentuadas entre 2019 e 2021, a acusar as condicionantes adicionais que, em 2020, resultaram do ano mais limitante da pandemia.

Embora em crescimento, as 7,5 toneladas de nozes portuguesas são menos representativas do que as amêndoas e castanhas, que registaram, respetivamente, mais de 41 mil e de 37 mil toneladas, revelam as Estatísticas Agrícolas 2021. A diferença não é de estranhar, uma vez que a superfície dedicada às nozes representa apenas cerca de 10% da ocupada por amendoeiras (mais de 58 mil hectares) e soutos (mais de 50 mil hectares). A avelã é dos quatro frutos de casca rija a menos representativa, com 408 hectares e 240 toneladas em 2021.

Tendo em conta o recente aumento de área produtiva, é expectável que a quantidade de produção mantenha a tendência positiva também na próxima década. Recorde-se que as primeiras colheitas de nozes com relevância comercial acontecem, geralmente, a partir dos sete anos de vida das nogueiras e a produção plena atinge-se por volta do trigésimo, o que constitui um bom indicador para o futuro da noz portuguesa.

Todavia, há também que considerar o envelhecimento de plantações mais antigas, que pode levar à alternância anual entre elevadas produções e colheitas modestas (alternância ou safra e contrassafra). A esta realidade acrescem pressões várias, como as ambientais e das pragas e doenças da nogueira, por exemplo. Difíceis de prever e estimar, estas condicionantes podem alterar o perfil de crescimento e produtividade esperado.

Maioria da noz portuguesa vem do Alentejo
A cultura está, sobretudo, concentrada no Alentejo, onde se situa cerca de 43% da área de cultivo de nogueira e 57% da produção de noz portuguesa, indicam as Estatísticas Agrícolas de 2021. A segunda região com mais área dedicada é o Norte (29%), mas a sua produtividade é baixa: menos de uma tonelada por hectare – a menor produtividade média de entre todas as regiões continentais, muito aquém das cerca de 1,8 toneladas por hectare conseguidas no Alentejo.

O Centro tem a terceira maior área dedicada à produção das nozes (26%) e é a segunda que mais noz portuguesa produz em termos absolutos, com uma produtividade um pouco acima da tonelada por hectare. É curioso que as regiões negligenciáveis em termos de área e produção, Área Metropolitana de Lisboa e Algarve, são as duas mais produtivas: conseguem obter mais de duas toneladas de nozes por hectare.

Todas as regiões continentais, exceto o Algarve, contribuíram para o crescimento da área de cultura na última década (2012-2021), mas foi o Alentejo a que trouxe maior impulso, com a sua área de produção a passar de 686 para 2437 hectares. Este aumento, a par da mecanização e intensificação da cultura, e da disponibilidade de água no perímetro do Alqueva, terão ajudado a que as nozes com origem no Alentejo passassem, em 10 anos, de 1898 para 4323 toneladas.

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O crescimento da cultura nesta região foi também acompanhado pelo investimento industrial, salientando-se a abertura de duas unidades transformadoras. Em 2017, iniciou laboração a Migdalo, no concelho de Ferreira do Alentejo, dedicada à transformação e comercialização de amêndoas, nozes e avelãs e em 2021 abriu a nova fábrica Nogam de processamento de nozes e amêndoas nos arredores de Évora. Em ambos os casos, a prioridade é transformar as nozes produzidas na região.

Noz portuguesa não chega para a procura
Apesar do pronunciado crescimento da produção deste fruto oleaginoso, a noz portuguesa continua a ser insuficiente para dar resposta à procura interna, uma realidade que fica bem patente nos volumes anualmente adquiridos ao exterior, que são particularmente expressivos no caso da noz sem casca.

Em 2021, foram importadas 2463 toneladas de noz sem casca, o que significou o pagamento ao exterior de 14,8 milhões de euros. As exportações ficaram-se por umas modestas 83 toneladas, que renderam apenas 475 mil euros. Na última década, o saldo do comércio internacional foi consecutivamente negativo e 2021 fechou com um prejuízo de superior a 14,3 milhões e euros.

Nas nozes com casca o cenário não é muito diferente. Embora os volumes e respetivos valores sejam menos expressivos, a balança externa também ficou no vermelho ano após ano: em 2021, mais de mil toneladas de nozes de saldo negativo significaram perdas de perto de 2,7 milhões de euros.

As principais origens das importações portuguesas de noz nos últimos anos são Espanha, França, Chile e Alemanha. No caso da noz com casca, destacam-se Espanha e França, e no da noz sem casca, o Chile e Espanha.

O acréscimo de procura por nozes tem vindo a justificar a necessidade de aumentar a produção e as importações. Por exemplo, o consumo aparente de noz sem casca (soma da produção e da importação, menos a exportação) atingiu em 2021 um máximo de 8,65 mil toneladas, revela o GPP – Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral. O total representa quase mais duas toneladas do que no ano anterior e perto do dobro das 4,86 toneladas de 2012.

Em 2021, a produção de noz portuguesa permitiria abastecer o equivalente a 60,5% do mercado interno em termos de noz sem casca, percentagem que tem variado entre os 50% e os 65% ao longo da última década.

Preço contraria tendência de crescimento
Se quase todos os indicadores focados revelam tendência de crescimento, a exceção vai para o valor da noz, designadamente o valor pago a quem se dedica à produção.

No que diz respeito aos preços anuais no produtor, o quilograma rondava os 2,25 euros, em 2021, o valor anual mais baixo da década, segundo indica uma análise aos montantes indicados nos vários anuários estatísticos agrícolas do INE – Instituto Nacional de Estatística. Em 2016, um quilograma de noz portuguesa chegou a render ao produtor 3,69 euros, mas este montante tem vindo a decrescer desde então.

A queda do preço da noz sem casca destinada à exportação é ainda mais pronunciada: reduziu para menos de metade: 5,72 em 2021 face a um máximo de 13,78 em 2014. Já as nozes com casca vendidas ao exterior recuperam, em 2021, algum do valor perdido nos dois anos anteriores, situando-se nos 3,74 euros por quilograma.

Os preços de importação têm acompanhado também a tendência de redução, tanto os da noz com casca, que caíram abaixo dos 2,8 euros por quilo em 2021, como os da noz sem casca, que rondaram os 6 euros, no mesmo ano. Em meados da década, o primeiro chegou a ultrapassar os 4 euros e o segundo os 9 euros.

Além das condições naturais (climatéricas, por exemplo) e de mercado (variações da procura e oferta) que afetam o valor da noz, ele depende também de aspetos qualitativos como a forma, o calibre e tamanho, a cor da semente e da casca, a facilidade de descasque e a quantidade de miolo comestível. Para maximizar valor, a noz deve ser colhida na maturação e imediatamente descascada e seca. Ao permanecer no solo o menor tempo possível, evita-se a perda de qualidade e valor comercial. A apanha mecanizada agiliza esta variável e tende a reduzir os custos da recolha manual, que podem elevar-se a 40-45% dos custos produtivos totais.

Refira-se que, em Portugal, a nogueira (Juglans regia) é cultivada principalmente para a produção de fruto. No entanto, além das nozes para a alimentação humana, um nogueiral dá origem a produtos e subprodutos com vasta diversidade de utilização, que podem ser fontes de receita complementares para produtores e também para indústria transformadora.

As cascas verdes das nozes, por exemplo, podem ser utilizadas como corretivos do solo, enquanto as cascas rijas têm aplicação como abrasivos naturais para limpeza, como composto para plantas e ainda como matéria combustível, na produção de carvão, pellets e briquetes para aquecimento.

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Da mesma forma, várias partes da noz e da nogueira têm aproveitamento em muitas outras aplicações, desde as medicinas tradicionais e naturais à tinturaria, cosmética e nutracêutica. Isto, claro, além da nobre e valorizada madeira da nogueira, para cuja produção e valor não existem indicadores em Portugal.

Descubra mais sobre a noz e as suas aplicações modernas e tradicionais aqui.

Noz é o segundo fruto seco de casca rija a nível mundial

O interesse crescente pela noz não é um exclusivo nacional. Na campanha 2021/22, este foi o segundo fruto de casca rija mais produzido no mundo: representou 19% do total desta categoria (a seguir à amêndoa, com 32%), indica o Nuts and Dried Fruits Statistical Yearbook, do International Nut and Dried Fruit Council.

Globalmente, perto de um milhão de toneladas (996 mil) de nozes foram produzidas na referida campanha (e consumidas), quase o dobro das 530 toneladas registadas 10 anos antes (96% de crescimento), revela a mesma fonte. O valor deste fornecimento reflete o crescimento produtivo, embora de forma menos pronunciada: de 4,37 mil milhões de dólares em 2012/13 para 7,30 mil milhões em 2021/22, o equivalente a um aumento de 67%.

A China é o maior produtor global de noz, responsável por 46% do total mundial, e as suas nozes destinam-se, maioritariamente, ao consumo interno. O maior exportador e segundo principal produtor é os Estados Unidos da América, com 29% da produção e 46% das exportações. Entre os grandes produtores e exportadores mundiais, destacam-se também o Chile, principal origem da noz no hemisfério sul, e a Ucrânia, cuja representatividade poderá estar comprometida nos próximos tempos pela invasão russa.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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