Inglaterra está a um passo de revolucionar o modo da sua produção agrícola e pecuária, estando a considerar a utilização da edição de genomas em plantas e animais. Mas isso só será possível se conseguir alterar as regras da União Europeia que vigoram no País e que são muito rígidas relativamente às Novas Técnicas Genómicas (NTG). O governo de Boris Jonhson lançou ontem uma consulta pública que irá durar dez semanas.
Editar o genoma de plantas e de animais pode em breve ser uma prática permitida em Inglaterra. Numa consulta lançada ontem e que terminará a 17 de março de 2021, o governo britânico garantiu que a utilização desta tecnologia traria benefícios aos agricultores e aos consumidores, porque “permitiria o aumento da produção, alimentos mais saudáveis, melhor bem-estar animal e menos impactos ambientais.”
As regras atualmente em vigor no País são da lavra da União Europeia (EU) e tornam quase impossível a edição de genes em plantas e animais. Mudá-las permitiria desenvolver culturas que requerem menos pesticidas ou fertilizantes e com propriedades nutricionais aprimoradas. Por exemplo, uma variedade de tomate que pode reduzir a pressão arterial, como a que foi recentemente licenciada para venda no Japão. Nos animais, determinados genes poderiam ser editados de modo a torna-los resistentes a doenças essenciais, o que por si só reduziria a necessidade de antibióticos e a probabilidade de desenvolverem bactérias super resistentes.
A edição de genomas tornou-se possível com o desenvolvimento, em 2012, de ferramentas como o Crispr-Cas9, que permite aos cientistas selecionar, remover ou alterar com muita precisão partes de DNA, bem como ativar ou desativar determinados genes. É um processo é diferente da modificação de genes (utilizada nos OGM): enquanto na modificação genética se introduz uma sequência de DNA de uma espécie em outra espécie, na edição genética a modificação dos genes é feita de forma mais eficiente, mais rápida, fácil e barata, sem introdução de material genético estranho à espécie, seja uma planta, seja uma animal. Dito de uma forma simplista, a edição de genes é apenas uma maneira mais rápida de encontrar a variação genética produzida por processos naturais.
Apesar das enormes potencialidades, a aplicação desta e de outras Novas Técnicas Genómicas (NTG) ainda está muito condicionada na União Europeia graças ao Tribunal de Justiça Europeu, que em 2018 decidiu que a edição de genomas é o mesmo que a modificação genética e, como tal, deveria estar sujeita à mesma regulamentação rígida. De referir que as variedades agrícolas geneticamente modificadas (GM) estão sujeitas a uma proibição quase total na EU. Portugal e Espanha apenas estão autorizados a produzir milho Bt.
A consulta do governo britânico será apresentada com mais detalhes no dia 14 de janeiro durante a Oxford Farming Conference (online).
Para mais informações, leia a notícia The Guardian.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.