Nuno tem uma vinha: “Os preços aumentam, mas não recebemos mais”

Nuno, Ricardo e Epiménio, pequenos produtores do concelho de Palmela, garantem que a inflação que se faz sentir no carrinho de compras não se traduz em receita para os agricultores.

A poucos metros da antiga escola primária dos Arraiados, Pinhal Novo, junto a um portão verde na rua do Ouro, Nuno Sousa levanta o braço num gesto de reconhecimento. É sábado e deixou o fato em casa. “Estou com roupa de campo, é melhor trocar?”, pergunta ao ver as câmaras do PÚBLICO.

Não troca, deixa-se ficar na camisola de malha azul e nas calças de ganga larga, enquanto conduz a conversa sobre a “pequena vinha familiar” que ali nasceu pela mão do avô. Mais atrás, com o rosto rosado do calor das folhas que ardem numa pequena queimada, está o pai.

Ricardo é técnico de manutenção nas oficinas da Comboios de Portugal (CP) e Nuno trabalha no departamento de marketing de uma empresa de climatização. Os dois alimentam esta produção pelo “gosto à vinha”. Produzem vinho para consumo próprio e vendem o excedente às adegas locais. “Com o preço a que nos pagaram a uva no ano passado, face aos custos que tivemos com a vinha, deu para comprarmos um par de calças e umas botas”, conta.

Encostado a uma velha oliveira à entrada da Quinta da Saudade, Nuno explica que quando enviou o testemunho ao Contas à Vida, quis “partilhar a realidade dos pequenos produtores”, que diz serem uma das “vítimas da inflação” e “de um aproveitamento por parte das grandes superfícies”. Apesar de acreditar que o seu exemplo “não é o mais gritante e que há casos bem piores”, serviu-se dele para “ilustrar um problema maior”.

“Nesta região a uva foi paga entre 33 e 35 cêntimos por quilo. No nosso caso em particular houve um aumento de um cêntimo em relação ao ano anterior. Para se ter uma noção, um pacote de herbicida ou um pacote de adubo tinha em 2022 o dobro do preço face a 2021”, revela. Para o jovem de 27 anos, o impacto da inflação no carrinho de compras não se reflecte, muitas vezes, em mais receita para o produtor. E isso, assegura, é “desanimador”.

“Eu e o meu pai mantemo-nos aqui por tradição familiar e porque não queremos deixar […]

Continue a ler este artigo em Público.


Publicado

em

,

por

Etiquetas: