“O ambientalista simplório grita: oiçam os cientistas, quando os cientistas lhe dizem o que ele quer ouvir. Oiçam os cientistas: estamos a destruir o planeta com as alterações climáticas. Mas, quando os mesmos cientistas dizem que os transgénicos não fazem mal nenhum e podem ser uma mais-valia para o ambiente e para a humanidade, o ambientalista simplório berra: Os cientistas estão a soldo das multinacionais.
O ambientalista simplório quer agricultura biológica, porque não gosta de químicos. Mas esquece-se de que tudo são químicos, do oxigénio que respira ao sulfato de cobre usado, tal como centenas de outros produtos naturais, na agricultura biológica. Esquece-se de que a agricultura biológica precisa de mais espaço, valioso espaço, para produzir a mesma quantidade que a agricultura convencional, e que esse espaço terá de ser ganho à custa da desflorestação.”
Quem o escreve é Luís Ribeiro, no artigo de opinião publicado na Visão, numa reflexão que inevitavelmente nos transporta para alguns dos mais importantes dados revelados pela campanha “Considere os Factos”, desenvolvida pela ANIPLA. Levada a cabo em 2018, num trabalho que surge da necessidade de compreender o nível de conhecimento que os portugueses têm da realidade agrícola e que revelaram um preocupante desconhecimento da população sobre alguns dos maiores desafios colocados à atividade e setor. O estudo, elaborado em parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, trouxe importantes inputs, mas mais do que isso, um alerta urgente: os consumidores continuam afastados dos produtores dos seus alimentos.
O que reforça a importância de algumas das reflexões partilhadas por Luís Ribeiro em “O Ambientalista Simplório”. O papel da ciência na produção agrícola é crucial para uma actividade mais segura, mais consciente e, sobretudo, sustentável e acessível. É, por isso, urgente, proporcionar um debate aberto entre consumidores e produtores, que nos permita desmistificar ideias pré-concebidas, desfazer mitos na alimentação e com isso evitar considerações ingénuas, assentes em informação de pouca profundidade e que, tantas vezes, e erradamente se espalha.
Ainda que, segundo os resultados do estudo, 85% dos portugueses reconheça que os produtos fitofarmacêuticos servem para proteger as plantas de infestantes, pragas e doenças, 93% revelam não saber que a produção alimentar precisa de aumentar 60% até 2050. Efetivamente, para que esta produção aconteça é necessário garantir que não há culturas perdidas devido a pragas, doenças e infestantes, e para tal é necessário o uso de fitofarmacêuticos. Uma vez mais: importa desconstruir e informar, numa altura em que redes sociais e outras plataformas permitem que extremismos e alarmismos se instalem e ganhem forma no dia-a-dia da população.
“O ambientalista simplório faz campanhas para que se coma “fruta feia”, julgando que os agricultores mandam para o lixo tomates e maçãs que não interessam aos supermercados. Mas ignora que esses tomates e essas maçãs disformes se transformam em ketchup, sumos e outros produtos, que obviamente não são feitos com vegetais e fruta topo de gama”. reforça Luís Ribeiro, trazendo ao de cima a mais importante das evidências: É urgente fomentar o interesse pela verdadeira informação, baseada em factos e na ciência, longe de conclusões opinativas, para que a opinião seja fundamentada e distante de extremismos que nada mais acrescentam do que um ruído que confunde e afasta o consumidor daquela que é a realidade.
Assista também ao último debate do programa Negócios da Semana, na SIC Notícias dedicado ao tema “Consumir menos carne de vaca é proteger o ambiente”: