Os produtores de leite estão como a nossa bandeira: “de pernas ao ar”! Vivemos um período difícil e crítico. Não é de admirar. O País assim está!
Depois de mais um “Verão quente”, com sucessivas conferências de imprensa e comunicados, juntamente com a grande manifestação de produtores de leite na Assembleia da República, conseguiu-se colocar na agenda política da Sr.ª. Ministra da Agricultura o problema do baixo preço pago por litro de leite à produção, em constante contraciclo com a subida vertiginosa dos custos alimentares das nossas vacas.
Após todo este esforço, os produtores tiveram que se retirar para as colheitas da forragem de milho e novas sementeiras das forragens de Outono-Inverno. No entanto alguns produtores ficaram em alerta, onde iam tentando manter alguma pressão sobre a Sr.ª. Ministra solicitando a sua mediação nesta problemática dos preços baixos pagos à produção.
Em finais de Setembro são apresentadas pela Sr.ª. Ministra, na Agro Vouga, promessas de que a situação “a breve trecho” iria melhorar. Falou-se numa ajuda comunitária, para minimizar as dificuldades da produção e, a grande novidade seria “o grande compromisso de honra” entre a Distribuição e a Indústria Nacional em rever os contractos de fornecimento de leite no sentido de fazer chegar alguns cêntimos aos produtores.
Estes eram os boatos que se iam ouvindo e que rapidamente eram difundidos através dos técnicos que prestam assistência nas vacarias de norte a sul do país, numa tentativa desesperada de aumentar os ânimos dos seus clientes (produtores de leite).
Todos nós sabemos que a Sr.ª. Ministra tem fé e que acredita no lado bom dos Homens, mas nós produtores de leite, talvez fruto desta actividade diária difícil, nesta fase bastante angustiante que estamos a atravessar não acreditamos na boa fé daqueles em que as suas actividades apenas visam o lucro imediato.
Contudo, ainda temos fé!
Continuamos a ouvir falar da troika, da austeridade… Num aumento do preço do leite pago à produção no continente: NADA!
Quanto tempo havemos de esperar?
Quantas vacas mais têm que ir embora, por não haver dinheiro para as alimentar a todas?
Quantas vezes mais havemos de renegociar as nossas dívidas com os fornecedores?
Quantas vezes mais havemos de renegociar os empréstimos bancários?
Para que datas havemos de passar os cheques pré-datados, que são inevitáveis?
Quantos empregados irão para o desemprego, por já não haver dinheiro para lhes pagar no final do mês?
Onde anda esse aumento que foi sussurrado em forma de boato nos “corredores da fileira do leite”?
É preciso dizer que já somos poucos, mas somos bons, porque produzimos com qualidade. Recusamo-nos a desistir. SIM, somos RESILIENTES! É a nossa resiliência, a nossa fé e uma boa dose de paixão que mantêm as nossas explorações. Mas, infelizmente, acredito que para alguns chegará o momento em que a RAZÃO SE SOBREPÕE Á PAIXÃO.
Hoje o meu apelo é para a Sr.ª. Ministra da Agricultura:
– NÃO DESISTA, QUE NÓS TAMBÉM NÃO!
Manuela Dias Pimenta
Produtora de leite
Licenciada em Engenharia Agro-Pecuária