Pedro Garcias

O Dão e como o passado pode ser o seu futuro – Pedro Garcias

O Dão que interessa e que pode ter futuro não é o dos vinhos concentrados, extraídos e de álcool elevado. É o Dão de antigamente, dos vinhos mais austeros.

Se olharmos para o mapa do país vinhateiro, podemos ver que o Douro faz fronteira com as regiões dos Vinhos Verdes, Trás-os-Montes, Beira Interior, Távora-Varosa e Arribes del Duero, já no lado espanhol, em frente a Freixo de Espada à Cinta. E, a partir de Lamego, o Dão fica a meia dúzia de minutos de carro. O que isto nos diz? Diz-nos que esta circunstância geográfica talvez explique a grande riqueza de castas das vinhas velhas durienses – e de algumas das regiões vizinhas.

Foram muitos séculos de trocas entre o grande vale do Douro e a vizinhança. Quem sabe se a reputada variedade branca Rabigato, por exemplo, que no lado espanhol tem o nome de “Puesta en Cruz”, porque de facto o cacho se assemelha a uma cruz, não terá vindo de Espanha para o Douro Superior, onde melhor se expressa? Ainda assim, não deixa de espantar que estas regiões sejam, de uma forma genérica, tão diferentes no tipo de vinhos que produzem, apesar de partilharem castas e tradições vinícolas.

Sublinho “de uma forma genérica” porque essa diferenciação era muito mais óbvia quando a região duriense produzia basicamente vinho do Porto. Com o incremento e sucesso dos vinhos DOC Douro, temos vindo a assistir em algumas regiões vizinhas a fenómenos de mimetização do “estilo Douro”. Isso é, sobretudo, evidente nas regiões de Trás-os-Montes e do Dão, o que não interessa a nenhuma delas, porque se estão a desvirtuar e porque nunca poderão ser como a fonte em que se inspiram.

Foquemo-nos no Dão, que é o tema deste texto. O Dão que interessa e que pode ter futuro não é o dos vinhos concentrados, extraídos e de álcool elevado. É o Dão de antigamente, dos vinhos mais austeros, finos e frescos, influenciados pela altitude, pelos solos graníticos, pelas serras envolventes e pelos aromas resinosos e balsâmicos dos pinhais. E, se lhes concedermos alguns anos de garrafa, vamos descobrir que, por trás de uma aparente fragilidade, são vinhos ricos e longevos, capazes de se baterem com os melhores dos melhores. Pude provar alguns dessa estirpe numa prova recente, no restaurante Praia do Homem do Leme, na Foz, Porto.

Quando o Casa da Passarella Vindima Tinto 2011 foi apresentado, no final do ano passado, escrevi que este vinho “pode vir a estar […]

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