A partilha de informação e o acesso ao conhecimento têm sido referidos inúmeras vezes como factores limitantes para a competitividade do sector agrícola. No entanto, face às tecnologias de informação e comunicação que hoje temos ao nosso dispor, em particular aquelas que suportam a denominada Web 2.0, não existem actualmente limitações significativas para construirmos sofisticadas plataformas colaborativas visando dar resposta a esta necessidade, com custos reduzidos e tirando partido da denominada inteligência colectiva.
O termo Web 2.0 pretende descrever a tendência que se constatou na utilização das tecnologias da World Wide Web e do Web Design para reforçar a criatividade, a partilha de informação e a colaboração entre utilizadores (Wikipedia, 2012). Esta designação ganhou grande notoriedade e, embora o termo sugira uma nova versão da World Wide Web, ele não se refere a qualquer evolução das especificações técnicas envolvidas, mas sim a uma mudanças na maneira como quem desenvolve o software e os utilizadores finais utilizam a Web. Esta evolução levou à criação e desenvolvimento de comunidades baseadas na web, tais como redes sociais, partilha de vídeos, wikis, blogues e folksonomia.
São inúmeras as definições desta nova realidade apresentadas pelos defensores da Web 2.0, também designada por Web Social, mas quase todas partilham um ponto em comum: o utilizador, anteriormente apenas receptor de informação, passa a desempenhar um papel activo, actuando tanto como receptor como emissor, e as suas opiniões e pontos de vista passam a poder ser apresentados a uma escala global.
Segundo Tim O’Reilly, criador do termo, a Web 2.0 “é a mudança para uma internet como plataforma e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre outras, uma das regras mais importantes é desenvolver aplicações que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência colectiva”.
Este paradigma pode ser constatado na Wikipedia, cuja dimensão e valor se alimenta dessa “inteligência colectiva”, pois o seu modelo de negócio assenta na possibilidade oferecida a todos os utilizadores de permitir a qualquer um criar ou editar uma entrada numa enciclopédia em permanente actualização. Mais, o próprio software que suporta esta plataforma é open source, oferecendo a qualquer pessoa a possibilidade de criar novos wikis praticamente sem custos.
Foi com esta convicção e sob o lema “Hortofrutícolas em Rede: Interagir para Competir”, que a Federação Nacional de Organização de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) lançou a HortiNET – uma rede social profissional de recolha e partilha de informação técnica e científica para a fileira hortofrutícola nacional.
A rede HortiNET (http://hortinet.info), criada pela FNOP no âmbito da acção 4.2.2 “Redes Temáticas de Informação e Divulgação” do ProDeR, pretende constituir-se como uma rede social profissional para o sector hortofrutícola, visando promover o tratamento e difusão de informação técnica e científica nesta fileira estratégica tirando partido da inteligência colectiva desta comunidade, aposta na articulação e adequação entre a produção de conhecimento e as necessidades dos seus potenciais utilizadores, melhorando o tratamento e o acesso à informação necessária para o desenvolvimento da competitividade das empresas e dos territórios no contexto da produção de frutas e hortícolas, estimulando a cooperação e a organização sectorial.
Pelo conhecimento que a FNOP possui sobre a fileira hortofrutícola, a HortiNET poderá contribuir para uma mudança significativa das condições de acesso a informação, considerada hoje como um dos recursos mais valiosos para qualquer actividade económica. Efectivamente, a partilha de informação e o acesso ao conhecimento são hoje um imperativo estratégico para a competitividade do sector hortofrutícola e, nesse sentido, é fundamental a colaboração entre todos os agentes desta fileira, de montante a jusante e juntando todos os elos da cadeia de valor, incluindo desde os produtores, aos investigadores e académicos, empresas de produtos e serviços, agro-indústria e mercados na partilha de informação e construção de conhecimento.
A aposta numa rede social profissional assenta no sucesso inquestionável da Web 2.0 e das Redes Sociais no contexto da vida pessoal, o que nos levou a considerar a hipótese de construir uma rede onde as tecnologias e características da Web social seriam utilizadas para construir uma plataforma colaborativa visando a criação de uma comunidade de prática para o sector hortofrutícola nacional, a HortiNET. Esta rede, tirando partido da colaboração e da inteligência colectiva, muitas vezes referida como crowdsourcing, para promover a partilha de informação e a construção de conhecimento, poderá constituir-se como a porta de entrada para a comunidade dos interessados no sector hortofrutícola nacional. Assim, neste espaço virtual e para além dos posts tradicionais de uma rede social, os membros da rede podem criar/participar em grupos temáticos onde partilham recursos (documentos, fotos, vídeos, etc.), debatem ideias (fóruns), referenciam recursos (apontadores) e eventos e podem mesmo construir documentos colaborativamente.
Esta iniciativa é, assim, o reflexo da aposta e compromisso da FNOP no apoio ao acesso à informação necessária para o desenvolvimento da competitividade das empresas e dos territórios no contexto da produção de frutas e hortícolas. Sendo precisamente a escassez de informação um dos aspectos muitas vezes referido pelas organizações envolvidas nesta rede como uma das responsáveis pelas dificuldades em desenvolver em tempo oportuno estratégias competitivas, a presente rede será, sem dúvida, um promotor da competitividade do sector mediante a melhoria do tratamento e acesso à informação relevante através da construção de uma comunidade de interessados nesta área que, colaborativamente e de forma orgânica, constroem conhecimento vital para a tomada de decisão.
A HortiNET resulta de um projecto apresentado à Acção 4.2.2 “Redes Temáticas de Informação e Divulgação” do ProDeR pela Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), em parceria com o Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação (ISEGI) da Universidade Nova de Lisboa, a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, o Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR), a Cooperativa Agrária de Compra, Venda e Prestação de Serviços (AGROCAMPREST), a Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (CACIAL), a Cooperativa Agrícola de Hortofruticultores do Oeste (FRUTOESTE), a Organização de Produtores de pequenos frutos (LUSOMORANGO), a Cooperativa de Fruticultores e Horticultores da Região de Alcobaça (NARCFRUTAS) e a Organização de Produtores Hortofrutícolas (TORRIBA). Para além das entidades indicadas, a rede tem como parceiros internacionais a GFA, consultora austríaca especializada na área agrícola e a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-Pecuária, mais concretamente com a sua unidade EMBRAPA Informática Agro-Pecuária, com competências reconhecidas internacionalmente no contexto da gestão de informação e conhecimento no sector agrícola.
Miguel de Castro Neto
Professor Auxiliar / Subdirector Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa