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O Douro quer finalmente entrar no século XXI – Manuel Carvalho

O Douro viveu até agora à sombra de uma governação criada pelo Estado Novo. Durante décadas, o negócio fluía e as empresas adaptaram-se ao anacronismo. A estagnação leva-as a querer mudar

Só mesmo uma região com o potencial do Douro para a produção de vinhos de qualidade seria capaz de viver duas décadas do século XXI com um modelo de organização ancorado nos anos 30 do século XX. Só mesmo a constatação de que a inércia tem limites e que a falta de coragem para mudar implica custos foram capazes de mover as empresas do sector a aprovar um desígnio estratégico quase revolucionário para o ano em curso: em 2023, terá de haver uma “alteração do quadro regulamentar do sector” ou, por outras palavras, “novos desafios estratégicos” para o Douro e para os seus vinhos que “acabem com a ilusão completa em que vivemos”, nas palavras de António Filipe, presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto.

O que está em causa é próprio de uma região com excesso de história, de um Estado que gosta de tutelar a economia e de um país avesso a mudanças. Pela primeira vez, as empresas deram-se conta de que não podem continuar a viver com um quadro legal e um mecanismo de regulação aprovado nos primeiros anos do Estado Novo. Constataram afinal que um modelo pensado em exclusivo para o vinho do Porto não responde aos dilemas de uma região que agora produz também vinho do Douro com sucesso crescente. Deram-se conta de que a natureza pública do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto é um factor de perturbação, não de segurança.

O que agora as empresas propõem é, afinal, o “fim de uma mentira”. Como as outras regiões, querem que o organismo de regulação e fiscalização seja privado, quanto mais não seja para evitar a recorrente cativação pelo Ministério das Finanças das verbas que as empresas pagam através de taxas para a promoção. Mas querem ainda algo mais revolucionário: reduzir o limite máximo de produção por hectare das vinhas durienses.

Quando Portugal aderiu à então CEE, houve mais olhos do que barriga e negociou-se com Bruxelas um limite máximo de produção de vinhos com denominação de origem (vinho do Porto e vinho do Douro) 55 hectolitros por hectare. O problema é que uma região montanhosa, de solos pobres e com baixa pluviosidade jamais produz esses valores. Nos últimos dez anos, a produtividade média por sub-região (Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro […]

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