Ignasi Iglesias e Pedro Foles

O mercado da amêndoa, a sua volatilidade e previsões para os próximos 10 anos em Portugal – Ignasi Iglesias e Pedro Foles

As espécies lenhosas ocupavam uma área em Portugal de 87.416 Há em 2018 dos quais 43.573 a frutos secos. A produção média para o período 2017-2018 foi de 530.456 T de frutos doces e 22.67 T de frutos secos respetivamente.

A amendoeira é atualmente a árvore de fruto mais plantada no mundo e com um desenvolvimento tecnológico importante nas últimas décadas em Portugal e Espanha. A sua produção à escala mundial continua a ser liderada pelos Estados Unidos, em particular pelo estado da Califórnia com 79,2% da produção mundial, seguindo-se pela primeira vez Espanha que em 2020 foi o segundo produtor mundial com 121.600 T.

A União Europeia em 2020 produziu 161.780 T e importou da Califórnia 408.000 T, o que demonstra que o equilíbrio entre produção e consumo é muito deficitário.

Sendo que a União Europeia produz apena 6,6% da produção mundial, embora apresente uma tendência de forte crescimento. Em Portugal terão sido plantados nos últimos 5-6 anos de expansão de amendoal entre 15.000-20.000 novos hectares, o que permite fazer umas projeções de produções para 2025 em Portugal de 58.000 T.

As evoluções do preço médio do kg de miolo de amêndoa têm sofrido alterações ao longo do tempo (Figura 1). Com uma tendência para se estabilizar nos últimos anos num valor acima dos 6 eur/Kg em 2019.

Figura 1, fonte INS

O ano de 2020 foi devastador para muitos sectores da nossa sociedade sendo que a agricultura e mais particularmente o mercado mundial de amêndoa foram logicamente afetados pelo desequilíbrio sofrido devido à pandemia de Covid-19 , o que fez baixar consideravelmente o preço para um mínimo histórico de 3,20 eur/Kg (Lonja de Reus, Espanha), este facto deve-se sobretudo ao encerramento de fronteiras do mercado asiático no segundo trimestre de 2020 o que fez entrar um excedente de produção no mercado europeu vindo sobretudo dos Estados Unidos e Austrália, a esta facto juntou-se um aumento de 30.000 novos hectares a entrarem em produção na Califórnia, com um aumento de produção de 20% não calculado pelo Almond Board e só corrigido em termos estatísticos no primeiro trimestre de 2020, justamente cinco anos após serem plantadas e impulsionadas por um aumento do preço médio verificado em 2015 (quadro 1), comprovando uma teoria de evolução do preço médio que é proporcional ao investimento em novos pomares, o que nos faz entrar num ciclo de preços de 10 anos. Estes factos anteriormente descritos fizeram baixar o preço medio para os valores anteriormente descritos, mas é importante salientar dois pontos:

Analisando as últimos décadas este fenómeno de uma grande produção Californiana que acontece de 20 em 20 anos, verifica-se que não é significativo para investimentos a 25 anos. O segundo ponto seria que o nosso custo de produção na europa com amortização de terra incluída poderá rondar os 2,5-2,80 eur/Kg enquanto que nos Estados Unidos ronda os 4 eur/kg, estes valores levam a uma reflexão interessante, o breakeven point da produção californiana é muitos mais alto que a produção na Europa fazendo insuportável mais do que uma campanha aos preços atuais , sendo por outro lado os Estados Unidos e o seu potente Almond Board os reguladores e grandes impulsionadores do consumo de amêndoa a nível mundial , não será difícil perceber que o desaire de preços de 2020 não se repetirá tao cedo.

Segundo um estudo feito em 2020 (Jonathan Griffiths, Mark Coelho) para avaliar novos investimentos em pomares na Califórnia, mostra que existe uma relação inversa em relação ao aumento de produção e descida de preço , um comportamento muito comum no mercado de commodity’s. Esta relação influencia os novos investimentos em pomares (Figura 2) sendo que quando o preço esta baixo as novas plantações diminuem, o que vai influenciar as produções e o preço e as produções num período médio de 5 anos (equivalente ao período que um novo pomar demora a entrar em velocidade cruzeiro), sendo que este fator vai influenciar o preço novamente 5 anos depois entrando assim num novo ciclo. Na figura 2 (direita) observa-se a evolução dos preços ($US/lb) do miolo de amêndoa nos USA desde agosto de 2019 a março de 2021.

Figura 2 , fonte: FAO (esquerda) (direita) Hispania Nuts Agency

Conclusão

Em conclusão a procura continua superior à oferta, sendo que o fator Covid-19 influenciou o preço da campanha 2020, contudo não deve de todo influenciar os novos investimentos sendo que segundo o estudo acima citado se deve investir em contra-ciclo relativamente ao preço de mercado. O fator influenciador do baixo preço de este ano não têm um peso significativo num projeto a 25 anos , sendo que o futuro da agricultura passa por uma gestão analítica dos mercados a nível macro económico, uma agricultura de precisão e eficiente e uma mecanização quase total da agricultura não podendo os futuros investimentos assentar em variáveis tao voláteis como a mão de obra não qualificada por exemplo. Contribuindo todos estes fatores para o custo de produção confortável que temos na Europa e que nos permite encarar o futuro de forma confortável.

Ignasi Iglesias, 2D Technical Manager Agromillora Group

Pedro Foles, Gestor de país da Agromillora Grupo


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