O olival em sebe de sequeiro: uma alternativa para rentabilizar as áreas de sequeiro – Bárbara Castro

As alterações climáticas terão inevitavelmente um grande impacto na agricultura, principalmente em climas como o mediterrânico.  A alteração da distribuição da precipitação, bem como o aumento da frequência de eventos extremos, como secas prolongadas ou chuvas torrenciais, são fatores que poem em risco a disponibilidade e distribuição homogénea da água e a produção em regadio e que, por consequência, poderão ter impacte na produção de azeite e azeitona.

É por isso importante olhar para modelos de produção alternativos, que não dependam do regadio, e que, ao mesmo tempo, sejam rentáveis – o que indiretamente traz inúmeras vantagens socio-económicas a essas regiões.

O modelo de produção de olival em sebe está já estabilizado na produção em regadio, podendo-se obter boas rentabilidades com dotações até 3 000 m3/ha, que resultam em produtividades acima das doze toneladas. A produção com rega deficitária é também uma alternativa em zonas com acesso limitado a água.

O olival em sebe de sequeiro é uma alternativa inovadora, que apesar de ainda estar a dar os primeiros passos, tem demonstrado bons resultados. Exemplo disso são alguns pomares já instalados na região de Córdoba e Sevilha que irão constituir um caminho para a renovação dos olivais tradicionais de sequeiro. Conduzidos com um volume de copa inferior aos olivais em sebe de regadio, estes olivais conseguem ter necessidades hídricas bastante inferiores.

Áreas com potencial

O sucesso deste modelo produtivo carece do cumprimento de alguns requisitos edafo-climáticos, de modo a garantir uma boa instalação e a longevidade e produção do olival.

Têm potencial os solos com textura franca a argilo-limosa (teores de argila entre os 20%-50%) e com espessura elevada, condições estas que permitem uma boa infiltração e retenção da água da chuva e ao mesmo tempo um bom desenvolvimento radicular. Solos argilosos podem também ter potencial, mas já com algumas limitações. As condições climáticas também devem ser analisadas: uma vez que não há rega, é necessária uma precipitação de 300-400 mm, distribuídos entre o Outono e a Primavera.

Como exercício, e até para perceber como se podem valorizar os territórios, foi analisada a região Alentejo em Portugal. Observando a Figura 1, que detalha as manchas de solo com potencial para a produção de olival em sebe de sequeiro nesta região, é possível constatar que uma grande parte do território fora da influência de perímetros de rega tem aptidão para este modelo de produção, principalmente na zona Sul e Este. Nesta região há cerca de 958 968 ha com potencial para este modelo de produção:  932 755 ha sem limitações edáficas (verde) e 26 213 ha que podem ter alguma limitação dos solos (vermelho).

Figura 1 – Aptidão dos solos ao modelo de olival em sebe de sequeiro no Alentejo (NUT II) – (CONSULAI, 2022)

Comparação com o modelo atual

Quando comparado com outras culturas de sequeiro convencionais em Portugal, como o olival tradicional, o pinhão e a vinha no caso de culturas permanentes, e com os cereais, no caso das culturas temporárias, o olival em sebe é muito competitivo. É um modelo que pode ser quase na totalidade mecanizável, é um investimento baixo para uma cultura permanente e que pode ter um retorno do investimento em 14 anos.

Em termos de mercado, o azeite tem espaço de crescimento na Europa e no Mundo, especialmente por ser uma gordura saudável, que facilmente pode ser associada a agricultura sustentável e ecológica. Em termos de preços (Figura 2), em Portugal e Espanha estes têm-se mantido relativamente estáveis, oscilando entre os 2€ e 3,5€ (COI,2022).

Figura 2 – Evolução do preço do azeite (2011-2022) nos principais produtores europeus (COI, 2022)

Novamente a título de exemplo, apresenta-se uma conta cultura associada à produção de olival em sebe de sequeiro. Como é possível observar na Figura 3, este modelo de produção pode atingir uma produtividade de 6 a 7 toneladas de azeitona (5º ano), com o pressuposto de 1650 €/ha de custos operacionais, resultando numa margem bruta de 1275 €/ha. Prevê-se um investimento à instalação de cerca de 5400€/ha e uma TIR de cerca de 8% (payback de 14 anos).

Quando esta margem bruta com margens brutas de ocupações em sequeiro convencionais, como o trigo (200 €/ha) ou a floresta de pinheiro bravo (186 €/ha) podemos concluir que este modelo inovador traz rentabilidades muito superiores a estes territórios e pode assim consistir uma alternativa muito interessante em territórios com pouca disponibilidade hídrica.

Figura 3 – Conta de cultura do olival em sebe de sequeiro- 1ha (Fonte: CONSULAI e Agromillora)

Apresenta-se ainda uma análise de sensibilidade, de modo a avaliar o impacto da variação do preço e da produtividade na TIR. É possível observar que o preço tem um grande impacte na rentabilidade do investimento, no entanto apenas com preços médios abaixo dos 2,5€ e produtividades médias abaixo dos 6500 kg/ha obtêm-se rentabilidades negativas.

Figura 4 – Análise de sensibilidade: impacto da variação do preço e produtividade na TIR

Para concluir, numa região onde cada vez mais é incerta a disponibilidade de água para o regadio, é necessário estudar e investir em modelos produtivos resilientes, que possam contornar esta limitação, e assim permitir que os territórios se mantenham produtivos e rentáveis, atraindo pessoas, empresas e atividade económica.

Bárbara Castro

Área de Estudos e Estratégia da CONSULAI

Fonte: CONSULAI


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